Observador Isento (Unbiased Observer)

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Tuesday, November 08, 2005

Pirataria e marketing

Certa vez, há vários anos, fui levar dois relógios de meu filho, - naquela época adolescente e um grande "consumidor" de relógios, - para consertar. Eram dois relógios da mesma marca, e tratei de verificar o endereço do representante da referida marca para lá levar os relógios.
A atendente apanhou um dos dois relógios, preencheu um pequeno formulário, que anexou ao mesmo destacando um boleto, que me entregou, com um número de identificação e uma data para reclamar o relógio uma vez consertado. Para minha surpresa, entretanto, disse que o outro relógio, apesar de ser da mesma marca, "não era deles". Fiquei confuso, e indaguei se se tratava de uma imitação. A resposta foi ainda mais surpreendente: em lugar de confirmar, a atendente tirou de uma gaveta um pequeno pedaço de papél com um endereço e, entregando-me o papelucho, disse apenas que naquele endereço o relógio seria consertado. Dito e feito. Foi mesmo. E em nenhum dos dois locais quiseram confirmar ou negar que o relógio em questão era uma falsificação.
Comentando o assunto com um dono de joalheria que encontrei numa festa, algum tempo depois, êle deu uma informação que, mesmo que não seja verdadeira, lançou muita luz sôbre várias coisas que observamos constantemente. Segundo êle, os fabricantes dos relógios falsificados de marcas famosas são os próprios fabricantes das ditas marcas famosas. É a única forma de manter economicamente em funcionamento as dispendiosas instalações necessárias, que as vendas dos relógios ditos "legítimos", mesmo aos altos preços cobrados, não são capazes de sustentar. Os relógios "legítimos", segundo êle, são destinados a um público rico mas restrito que faz questão da marca e da exclusividade, pagando altos preços por isso, mas o custo desses produtos está a anos-luz de distância desses preços, podendo ser vendidos por muito menos. Assim, ao lado das pequenas séries de relógios ditos "legítimos" seriam produzidas grandes séries de relógios ditos "falsificados", eventualmente com diferenças mínimas imperceptíveis para a maioria das pessoas, - embora os joalheiros sejam sempre capazes de apontá-las, - para venda ao grande público a preços baixos.
Essa pessoa comentou que se fabricam produtos "falsificados" dessa forma em muitas áreas, não apenas no caso de relógios, mas também jóias, canetas, óculos, bolsas, perfumes, roupas e até fraldas para bebês. Muitas dessas coisas "falsificadas" são vendidas abertamente pelos camelôs nas esquinas do mundo sem que sofram qualquer repressão. Mas se alguém inventar de fabricar os produtos "falsificados" para aproveitar a onda, ver-se-á imediatamente reprimido e perseguido pelas autoridades policiais competentes, porque os advogados dos fabricantes dos produtos "legítimos" estão sempre atentos e nada lhes escapa.
Não tenho como confirmar essas informações, mas os camelôs vendendo produtos "falsificados" pelas esquinas sem serem molestados é coisa notória e inconteste no mundo todo.
Agora o Jorge Hori, em mais uma de suas sensacionais análises, aponta a "pirataria", referindo-se a softwares, como uma das formas mais eficazes e baratas de marketing (para maiores detalhes, leiam no blog Inteligência Estratégica a íntegra da análise, no endereço http://cndpla.blog.uol.com.br/), o que faz muito sentido: enquanto pirateia o software da Microsoft, o fabricante do software pirata contribue para promover a marca Microsoft ao mesmo tempo que impede a adoção do software livre, garantindo a sobrevivência e longevidade da plataforma Microsoft. E faz tudo isso mantido sob a mira das reclamações da Microsoft contra a pirataria. Tudo muito inteligente, sem dúvida. (Só mesmo o Jorge Hori para perceber uma coisa dessas.)
Diante desse quadro, temos que concluir, concordando com o Jorge, que a pirataria é em realidade uma instituição necessária à sobrevivência e boa saúde das grandes marcas.

1 Comments:

  • At Tue Jun 27, 04:22:00 PM EDT, Blogger GUILHERME DUQUE said…

    ENFRENTAMOS CONSTANTEMENTE A QUESTÃO DA FALSIFICAÇÃO E DA PIRATARIA. TANTO QUE ESTAMOS COMEÇANDO UMA SÉRIE DE DISCUSSÕES A RESPEITO DO TEMA QUE SERÃO SEMPRE EMBASADAS EM TEXTOS DE VÁRIAS PUBLICAÇÕES E EM NOSSAS OPINIÕES E NA DE ESPECIALISTAS.

    http://guilhermeduque.blogspot.com

     

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