Observador Isento (Unbiased Observer)

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Monday, April 04, 2011

Coisa séria

Luiz A. Góes

Certa vez, há muitos anos, levei minha família para passar uma semana numa das chamadas “estações de águas” do Estado de São Paulo. Fazia um friozinho e o hotel tinha uma boa cozinha, além de áreas de lazer, de modo que mesmo ficando só no hotel as crianças (nossos filhos), ainda pequenas, acabariam se divertindo.
Deixei-os lá num final de semana e no final de semana seguinte voltei para passar dois dias e levá-los de volta para casa.
Quando cheguei, minha mulher conversava com duas senhoras no sagão do hotel: tinham se conhecido naquela semana. Minha mulher nos apresentou e uma delas disse à outra: “Veja como esse moço se parece com o “Seu” Contin!”
Ouvindo aquilo, perguntei de onde elas eram, e me responderam que residiam em Limeira, onde havia uma família Contin que tinha uma fábrica de carrocerias para caminhões e coisas do gênero. Eu já tinha visto as carrocerias Contin em caminhões pelas estradas da região, mas só bem mais tarde a tal fábrica ficou visível, com uma enorme placa que lá colocaram.
Lembrei-me de meu avô Contin, que me contou certa vez a respeito de uma parte da família que veio da Itália com os Contin do sul, em fins do século XIX, parte essa que tinha se fixado no Estado de São Paulo e perdido contacto com os demais naquela época de comunicações e transportes precários.
Contei isso às duas mulheres, e imediatamente uma delas me perguntou: “O senhor também é estourado?”
Não me restou muita dúvida de que elas conheciam os Contin de que meu avô havia falado, e o “Seu” Contin de que elas falaram devia ser o patriarca daquele ramo da família naquela época.
Cheguei a planejar uma parada em Limeira algum dia, a fim de conhecer aqueles Contin, mas os acontecimentos acabaram me impedindo de realizar esse plano.
Na semana passada minha mulher e eu fomos levar nossos netos Lucas e Rafael ao teatro infantil, para assistir a peça “O Gato de Botas”. O Lucas está com 4 anos e meio, e o Rafael com pouco menos de 2 anos e meio.
Costumo dizer que o Lucas é nosso neto português, porque temos um lado português do meu falecido sogro e do pai de minha nora, mãe do Lucas. E o Rafinha digo que é nosso neto italiano, porque minha mulher e eu temos metade de nosso sangue de extração italiana. E os tipos físicos deles não me desmentem.
Foi uma apresentação leve, como costuma ser, e deu para as crianças compreenderem bastante bem a trama, a ponto de participarem um bocado com gritos, risadas, palpites.
Havia na estória um ladrão que de vez em quando entrava em cena e ficava escondido atrás de uma árvore, de um banco, ou até mesmo atrás de algum outro personagem. A criançada começava, então, a apontar e a gritar “Olha êle ali, olha êle ali”, querendo ajudar um tal “príncipe” a capturar o ladrão, mas êste sempre conseguia se esgueirar para fora do palco antes de ser descoberto.
Depois de muitos “Olha êle ali” sem qualquer resultado, porque o príncipe não parecia querer ver o ladrão e muito menos capturá-lo, o Rafinha perdeu a paciência e revelou sua melhor característica: “Seu bobão!”, gritou êle para o príncipe. Mostrou que além de italiano é um bom Contin!
Hereditariedade é coisa séria!

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