Observador Isento (Unbiased Observer)

A space for rational, civilized, non-dogmatic discussion of all important subjects of the moment. - Um espaço para discussão racional, civilizada, não dogmática de todos os assuntos importantes do momento.

Tuesday, May 08, 2012

Trocas de nomes

Luiz A. Góes

Está em tramitação no Rio de Janeiro um projeto de lei visando mudar o nome da Ponte Rio-Niterói de Ponte Costa e Silva para Ponte Herbert de Souza, ou Ponte Betinho. Parece que os esquerdistas querem apagar o passado e implantar os nomes de seu agrado em lugar daqueles de que não gostam, sem se darem conta de que o passado jamais pode ser apagado. E, no caso em tela, a Ponte Rio-Niterói será sempre conhecida como a Ponte Rio-Niterói, independentemente do nome que quizerem lhe dar conforme a ideologia dos poderosos do momento.
Quem chega a São Paulo vindo do exterior se surpreende ao ser informado que o avião aterrará no Aeroporto Governador André Franco Montoro, que é o nome do Aeroporto de Guarulhos atualmente. Não sei quem teve a idéia (de jerico) de inventar um nome para o aeroporto diferente daquele pelo qual é universalmente conhecido: será sempre conhecido mundo afora como o Aeroporto de Guarulhos.
Em Salvador há uma rua com o nome de um cidadão de origem árabe, mas que é conhecida como Baixa do Sapateiro. Baixa do Sapateiro é nome consagrado, inclusive, em prosa e verso e na grande música de Dorival Caymi: mudar-lhe o nome foi, a meu ver, um verdadeiro sacrilégio. 
De volta a São Paulo, uma rua muito antiga chamada Luiz Góes teve seu nome trocado para Luis Gois. O nome original pertenceu a um integrante da expedição de Martim Afonso de Souza em 1532. Agraciado por êste com a Sesmaria de Enguaguaçu, tornou-se o fundador da cidade de Santos, conforme pesquisas históricas acuradas, - erroneamente a fundação de Santos é atribuida a Braz Cubas, que fundou, em realidade, a cidade de Cubatão. Talvez eu ainda conte essa história oportunamente.
Voltando ao Luiz Góes da rua de São Paulo: há alguns anos algum administrador obtuso achou que a grafia estava errada e a mudou para Luis Gois, que historicamente nem existiu. (Será que foi algum inimigo meu que não gostava do meu nome?)
O mesmo aconteceu com o nome do nosso amado Brasil: o nome do país, desde a independência e mesmo antes dela, sempre tinha sido Brazil, que vem de "braza", como se escrevia antigamente a palavra brasa, - o nome da madeira vermelha cor de brasa que existia em quantidade por aqui era "pau-brazil". O nome do país era Brazil, mas quando mudaram a grafia da palavra brasa, resolveram mudar também a do nome do país, o que foi, sem dúvida, uma asneira sem tamanho.
Uma cidade do interior do Estado de São Paulo sempre foi conhecida como Borboleta. Lá para as tantas mudaram-lhe o nome para Badih Bacit, quando um parente desse personagem se tornou politicamente importante na região e inventou a idéia. Aí prevaleceu o chamado personalismo, de que temos exemplos abundantes: houve uma época em que tudo o que se construía ou fazia no Estado e na Cidade de São Paulo ganhava um nome contendo os nomes Paulo ou Maluf: a família inteira está representada nas ruas, praças, pontes, avenidas, túneis, empresas públicas, etc, etc.
Em Porto Alegre há um viaduto com o nome de um general não sei das quantas, mas que é conhecido como Viaduto da Marli. A história desse viaduto é muito interessante e precisa ser contada já, - de acôrdo com o que me contaram quando estive por lá na época dos acontecimentos.
Foi durante os govêrnos militares, e deram ao viaduto o nome de um general de que não me lembro, nome esse que deve ser o oficial até hoje.
Logo que a construção começou, os portoalegrenses perceberam que o viaduto terminava bem em frente a um conhecido bordel, então conhecido como Casa da Marli, e começaram a se referir ao dito cujo como "Viaduto da Marli". A obra prosseguiu até que, um belo dia, um importante jornal de Porto Alegre publicou em manchete: "Será inaugurado amanhã o Viaduto da Marli".
Naquele mesmo dia a polícia bateu na Casa da Marli, expulsou todas as ocupantes e destruiu tudo. Mas apesar do empastelamento o agora célebre viaduto continua a ser conhecido como Viaduto da Marli.
Se se for mudar nomes ao sabor dos desejos, das ideologias, da ignorância, das preferências pessoais, das conveniências de grupos, de interêsses econômicos particulares, ou por quaisquer outras razões, acabaremos com aquilo que há de mais importante na vida das pessoas: o próprio nome, que cada um recebe quando nasce, e o conhecimento das demais pessoas, dos lugares, etc, pelos respectivos nomes. A bagunça será geral.
Nomes nunca devem ser trocados ou modificados em suas grafias tradicionais. E os nomes dados pelo uso, pelo povo, devem ser considerados sagrados.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home