Observador Isento (Unbiased Observer)

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Saturday, May 12, 2012

Os pés

Luiz A. Góes

Os pés são mesmo intrigantes! São os nossos burros de carga: suportam o nosso peso, levam-nos aonde queremos ir, levam pancadas, pisões, sofrem constantemente. Dos pés tem dependido praticamente tudo o que o gênero humano fêz e faz: não é preciso falar muito sôbre isso. Até os melhores vinhos que bebemos são produzidos com uso intensivo dos pés: já pensaram nisso?
Mas os pés são feios, a meu ver a parte mais feia do corpo: pés bonitos são exceção absoluta.
Aliás, em quê consiste a beleza dos pés? Alguém já conseguiu definir isso?
Chamam a atenção coisas como a classificação dos pés em tipos egípcio, grego e quadrado. Diz-se egípcio quando o artelho maiór é mais longo do que o seguinte, e grego quando é mais curto. E quadrado quando os três artelhos maiores (pelo menos) têm o mesmo comprimento.
Cada tipo de pé teve seu prestígio nas artes, por exemplo, em determinados períodos da história. Na civilização greco-romana o pé grego predominou durante muitos séculos, - isso pode ser constatado facilmente percorrendo-se livros e revistas sôbre escultura e pintura. Mas entre nós o pé egípcio parece ser mais frequente.
Outra coisa interessante é o fato de que as mulheres parecem gostar de exibir os pés, mesmo que sejam feios, usando calçados abertos ou simples chinelas “de dedo” sempre que podem. E atraem a atenção das pessoas para êles pintando as unhas dos pés com cores vivas e chamativas. Será que preferem que olhemos para seus pés em lugar de olharmos para suas faces?
Em passado não muito remoto acontecia o contrário: as mulheres escondiam os pés. Especialmente as jóvens eram expressamente proibidas de exibir os pés, particularmente aos namorados, se os tivessem.
O que está por trás de tudo isso é o fato de que o centro de comando dos pés, no cérebro, é o vizinho mais próximo do centro de comando da libido, ou do sexo. Ver ou tocar os pés inevitavelmente provoca alguma reação da libido, ou seja, exibir pés é o mesmo que executar um strip-tease virtual, porque a imaginação de cada um se encarrega de produzir nas mentes aquilo que o visual (ainda) não permite.
É claro que a indústria cinematográfica descobriu isso bem cedo, e tratou de explorá-lo, particularmente enquanto exibir umas tantas outras coisas nas telas ainda era impossível. Exibir um beijo explícito, por exemplo, só veio a ocorrer pela primeira vez há relativamente pouco tempo, mas exibir pés nunca foi objeto de qualquer inibição. Na televisão e no cinema, aliás, as cenas envolvendo pés, pés se tocando, um massageando o pé do outro, etc, vêm se tornando cada vez mais frequentes e explícitas, sem qualquer dúvida substituindo cenas de sexo que por alguma razão não podem ou não devem ser exibidas.
É bem provável que os dublês de pés tenham encontrado trabalho muito mais cedo no cinema do que os dublês de corpo, porque não ficaria bem exibir os pés feios de uma atriz bonitinha: não combinaria. E seria ingenuidade pensar que todas as atrizes tidas como bonitas tinham ou têm pés bonitos.
A indústria calçadista também é beneficiária da constatação de que os pés têm algo a ver com a libido: produz calçados com belos visuais, mesmo que deixando a parte funcional de comodidade e proteção, mais importante, aquém do desejável. Esses belos visuais se destinam a substituir a beleza natural que falta à maioria esmagadora dos pés femininos, disfarçando ou encobrindo seus “defeitos” e desviando a atenção dos pés para o calçado, produzindo assim uma espécie de democratização da desejada beleza dos pés dos desejos.
Outras partes do corpo, como os joelhos e os cotovelos, talvez disputem com os pés a falta de beleza, mas não têm a sorte de serem comandadas por um centro de contrôle tão bem situado no cérebro quanto o que comanda os pés.

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