Observador Isento (Unbiased Observer)

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Thursday, December 08, 2005

Um homem chamado cavalo

Tive um sonho interessante.
Por dois motivos: primeiro, porque geralmente não me lembro de meus sonhos, e depois por causa da estória que vi nele.
Foi a estória do "homem chamado cavalo", misturada com outra, uma coisa confusa mas que no sonho parecia lógica.
Foi mais ou menos assim:
Vocês se lembram de um filme entitulado "Um homem chamado cavalo", que fêz bastante sucesso uns 20 anos atráz ou mais? O tal homem foi interpretado pelo Richard Harris, ainda relativamente jóvem, que apareceu como um caçador inglês na América do Norte lá pelo século XVIII.
O acampamento dos caçadores foi atacado por índios, que mataram a todos menos ao nosso herói: capturado, êle foi levado para ser o "cavalo" da mãe de um dos índios, já idosa e viúva, ou seja, para cuidar dela 24 horas por dia e fazer tudo o que ela necessitasse.
Foi uma vida estafante, mas no final o tal "cavalo" havia conquistado o coração da velha mulher, a essa altura mãe de um dos chefes da tribo que seu filho havia se tornado.
E salvou a tribo quando foi atacada por outra, graças a seus conhecimentos rudimentares de táticas de combate, - êle havia sido soldado no exército inglês, - tendo os guerreiros da tribo obedecido sem pestanejar às suas órdens em meio à situação de desespero em que se encontrava.
A coisa funcionou, evidentemente, porque a outra tribo não conhecia as tais táticas e foi pêga de surpresa.
Tempos mais tarde, ouvindo dizer que uns homens brancos vinham se aproximando, foi verificar e viu o exército americano avançando sôbre êles.
Mais uma vêz salvou a tribo, desta vêz convencendo-os a mudarem-se dali para bem mais longe, porque evidentemente as suas táticas não mais seriam suficientes para enfrentar aquele exército.
Mas dessa vêz não foi com êles: preferiu retornar ao convívio dos de sua raça.
Uns anos depois foi feito outro filme, chamado "A volta do homem chamado cavalo", com o mesmo Richard Harris, mas o sucesso do primeiro não se repetiu: não havia mais o fator surpresa que a novidade do primeiro ofereceu.
Pois é: essa estória entrelaçou-se com outra, porque estamos hoje num mundo em que um homem chamado Cavalo salvou sua "tribo" de uma convulsão social certa num momento em que a desordem da economia era completa, introduzindo um plano econômico com uma moeda de paridade fixa por decreto.
Chamou a isso de "conversibilidade", embora os cânones da economia digam que a principal condição para que uma moeda seja conversível é que seu valor possa flutuar livremente ao sabor das fôrças do mercado, sem imposições de qualquer outra espécie que possam mascarar o seu real valor.
Ora, em meio à perplexidade do momento a coisa foi bem aceita e funcionou, embora, evidentemente, ninguém queira comprar a tal moeda de paridade fixa por decreto como negócio, ou seja, a tal "conversibilidade" nunca teve credibilidade.
Tendo salvo a "tribo", pelo menos momentaneamente, o homem se retirou, e aí a "tribo", que não sabia fazer outra coisa, continuou com a mesma tática por longo tempo.
As outras "tribos" ficaram apenas olhando, ninguém disse nada mas nem sequer pensou em fazer a mesma coisa, - provàvelmente todo mundo sentia que aquilo podia estourar a qualquer momento, bastava uma dor de barriga repentina mais forte para jogar o barroso no ventilador, - mas a coisa continuou funcionando por algum tempo porque encontraram outra "tribo", mais ao norte, que aceitou bancar o "cavalo" dela, comprando seus produtos apesar da moeda supervalorizada e suportando o prejuizo que isso causava.
O truque foi convencer a outra "tribo" a não desvalorizar a sua moeda tanto quanto devia, até que um belo dia essa outra "tribo" se cansou e… deixou sua moeda flutuar ao sabor do mercado.
Aí foi um Deus nos acuda: os "brancos" estavam chegando!
Não sabendo o quê fazer, chamaram de novo o homem chamado Cavalo. Mas desta vez ficou mais difícil fazer a coisa funcionar, embora as outras "tribos" do mundo continuassem perplexas diante da insistência do tal homem em manter a paridade fixa e a "conversibilidade" da moeda por decreto.
Nesse momento acordei e não vi o fim do filme.
Cá no meu bestunto fico pensando como será o fim do segundo filme: o quê será que está realmente acontecendo? Será que a tal "tribo" deixa de ter moeda própria e adota a moeda de paridade como sua? Se é assim, o quê acontece quando êles emitem a sua própria moeda? E quem é que realmente terá o comando da economia deles se realmente adotarem a moeda de paridade? E se estiverem certos, porque é que as outras "tribos" não adotam a mesma tática? Será que deu a louca no mundo e todos estão errados menos êles? Porquê ninguém põe a boca no trombone? Ou será que estão dando corda só para cansar o cavalo? Ou que no fim vão cair definitivamente do cavalo?
Se alguém souber o fim do segundo filme, mande-me um e-mail dizendo qual é: estou ansiosíssimo por saber. E, sobretudo, se alguém souber qual é a mágica, diga logo, porque todas as outras "tribos" do mundo seguramente devem estar muuuuuuuuuuuuuito interessadas em saber.
Aguardo as respostas dos amigos, enviando a todos um grande abraço, apesar de ainda estar meio zonzo por me lembrar de um sonho desses, eu que raramente sonho ou me lembro de meus sonhos.

P.S. O sonho acima aludido ocorreu quando Domingo Cavallo era ministro da economia da Argentina pela segunda vez. Descrevi-o sob a forma do conto acima, que mandei para o pessoal de minha lista naquela época. Muito pouca gente respondeu alguma coisa: parecia que ninguém queria se atrever a dizer qualquer coisa enquanto os "grandes" continuavam a não se manifestar a respeito do que me parecia um completo absurdo.
Luiz A. Góes

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