Observador Isento (Unbiased Observer)

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Tuesday, January 09, 2007

Mais nomes

Luiz A. Góes
Já que andei falando de nomes de pessoas, porquê não falar de nomes de animais? Particularmente dos animais de estimação, que frequentemente têm nomes de gente, passam a "fazer parte da família", não é mesmo?
Quando meus filhos eram pequenos fizemos questão de ter alguns animais domésticos para diversão deles: começamos com um casal de bicos-de-lacre, passarinhos pequeninos e bonitinhos, e depois uma tartaruga, que se não me engano ainda deve estar viva, embora eu não saiba onde. Os bicos-de-lacre não tiveram nomes, mas a tartaruga foi logo batizada com o nome Miriam.
De vez em quando eu ouvia uns gemidos no quintal, mas nunca encontrava nada quando ia olhar, até que um dia flagrei a Miriam tentando trepar numa bola de futebol furada de meu filho, a qual tinha murchado e de longe podia bem ser confundida com uma tartaruga: era uma daquelas bolas de capotão, e a cor era parecida com a da Miriam. Os gemidos da Miriam eram muito parecidos com gemidos de gente, e eram bem altos. E o fato de a Miriam estar tentando trepar na bola levou-me a tentar aprender alguma coisa sôbre tartarugas: foi assim que aprendi a distinguir o sexo de tartarugas e jabutis, e descobri que a Miriam era realmente macho e não fazia juz ao nome que tinha recebido. Mas àquela altura não valia a pena mudar, porque só as explicações que teríamos que dar às crianças já eram motivo suficiente para deixarmos tudo como estava.
Tivemos também alguns cães: minha mulher, quando solteira, sempre tivera animais de estimação, entre êles coelhos e cães, além de sempre ter se divertido, desde criança, com os patinhos e peruzinhos que minha sogra costumava ter no quintal da casa dela, - até hoje minha mulher tem verdadeira adoração por patos, particularmente depois que ficou conhecendo numerosos tipos de patos existentes em várias partes do mundo.
Tentamos conservar um dos filhotes de uma cadela pastor que ela tinha, mas não conseguimos: foi preciso desfazermo-nos dele bem antes de nos casarmos. Mas assim que pudemos ver-nos em uma casa com um bom quintal tratamos de arranjar uma cadela Dálmata com poucas manchas marrons e boa estrutura, uma beleza de animal a que demos o nome de Bianca. Essa cadela fazia um sucesso tremendo sempre que a levávamos para a rua, e logo apareceram candidatos da mesma raça para cruzar com ela, mas, nunca soubemos porquê, as tentativas sempre se frustraram.
Tempos depois ganhamos um pequeno Bassê cor de cobre, a que demos o nome de Garufa, porque nos foi dado por um primo que tinha vivido parte de sua vida na Argentina e era um tremendo malandro no bom sentido: vivia inventando e colocando em prática malandragens que só êle mesmo podia imaginar. Garufa é o nome daquele malandro portenho do famoso tango: "Garufa, como sois divertido… Tu madre dice que sois un caso perdido…"
Pois o Garufa não negou a fama: apesar de ser pequenino em relação à Bianca, conseguiu cruzar com ela e nos deu uma nova cachorrinha, a que demos o nome de Milonga para seguir a "tradição". Continuou depois a cruzar com a Bianca e com a Milonga, e chegamos a ter, em dado momento, quatorze cães em casa, todos perfeitos e muito bonitinhos, apesar de sempre nos esforçarmos para distribuí-los entre os amigos e conhecidos, porque não dava para manter aquela matilha. Mas aquela turminha sempre me deu muita satisfação: acostumaram-se a me esperar junto ao portão no fim do dia, e quando viam o carro armavam uma barulheira para ninguém colocar defeito.
Um dia, num aniversário de uma das crianças, chegou um casal de amigos com um bebezinho recém-nascido. Todos quizeram ver o pequerrucho e ficaram sabendo que era uma pequerrucha, cujo nome era Bianca. Meu filho, então com 4 anos, saiu pela casa gritando: "Mamãe! Mamãe! Esse nenê tem um nome maravilhoso! O mesmo nome do meu cachorro!" Foi um vexame, mas deu a exata medida de quanto êle gostava da Bianca.
O gosto por animais fez com que minha sogra presenteasse meu filho com uma potranca que nasceu na fazenda, filha de uma das éguas dela. Meu filho escolheu, não sei por obra do quê, o nome Danúbia para aquela potranca, que veio a ser uma bela égua e nos deu numerosas crias, as quais acabei vendendo quando me desfiz de meu sítio. Uma dessas crias era uma potranca loira que fez um sucesso danado e sempre tinha muitos pretendentes compradores.
No sítio, - que naquele tempo chamávamos de fazenda, - eu tinha gado leiteiro, e sempre dei nomes de pedras preciosas ou semi-preciosas às cabeças que precisavam ter nomes. Assim, havia um touro chamado Topázio, e um outro chamado Brilhante. Os nomes das vacas eram Turmalina, Esmeralda, Opala, Onix, e por aí afora. A Turmalina foi a melhor vaca leiteira que tive em todos os tempos. A Onix foi assim batizada por ser uma vaca toda preta.
Nome de vaca é importante porque as vacas atendem pelos nomes, depois de acostumadas, - e se acostumam rapidamente, desde que dão cria pela primeira vez, - porque o mesmo nome é usado para os respectivos bezerros, que também atendem, até que sejam desmamados. Minha sogra e minhas cunhadas implicavam com o nome da Esmeralda, e um pouco com o nome da Safira, que eram considerados nomes de gente, mas depois uma de minhas cunhadas gostou da idéia e começou a batizar o gado dela com nomes como Roberto Carlos, Vanderléia, Nara, Elis Regina, etc, etc. Para a minha sogra aquilo era um absurdo, porque as vacas dela sempre tinham tido nomes como Malhada, Gaúcha, Pretinha, etc, mais "apropriados" a animais, segundo ela.
Um dia contratei um retireiro, - esse era o nome dado àqueles capatazes que cuidam das vacas leiteiras e tiram o leite, porque o local ficava sendo chamado de retiro, - que, sendo novo, teve que ser instruído quanto aos nomes das vacas. Custou um bocado para aprender, porque eram todos nomes muito exquisitos para êle. Criei um sistema para que o retireiro, fosse quem fosse, registrasse tudo o que acontecia com cada animal durante minha ausência, e um dia, lá chegando, li no caderno de anotações o seguinte: "Corcel criô bezerra maiada no dia 5."
No primeiro momento não entendi, mas depois percebi a coisa: o sujeito estava chamando a Opala de Corcel, e me informava que a mesma tinha dado cria a uma bezerra malhada no último dia 5. Êle ainda não estava conseguindo pensar em têrmos de nomes de pedras, mas sabia os nomes dos automóveis que existiam na época…
Um belo dia surgiu uma novela da Globo que era a estória de dois fazendeiros rivais, um deles máu caráter, interpretado pelo Lima Duarte, e a outra, - uma mulher, - interpretada pela Regina Duarte. O nome do tal fazendeiro maucaratista era, se não me engano, Sinhozinho Malta, e a tal mulher era conhecida como "viúva Porcina" – eu nunca soube se o público se dava conta de que porcina é o mesmo que porca…
Pois bem: as vacas do Sinhozinho Malta tinham os mesmos nomes das minhas, ou seja, de pedras preciosas e semi-preciosas. Eu devia ter cobrado royalties da Globo, ainda mais que um dia morreu a Turmalina do Sinhozinho Malta, e êle chorou amargamente porque era a melhor vaca dele, da mesma forma que a minha Turmalina era a melhor vaca que eu tinha. E por conta da novela fiquei recebendo telefonemas de parentes e amigos que sabiam dos nomes das minhas vacas, para comentar o assunto, por longo tempo.
Minhas duas filhas têm, atualmente, cães e gatos: uma delas começou com gatos, chegou a ter três, e agora está evoluindo para os cães por influência do marido. O gato que sobrou se chama Sam, e o cão, um Rottweiler, chama-se Brady, que nos EUA pode ser nome de gente. O Brady é um cão belíssimo e extremamente dócil, desde que seja "apresentado" às pessoas. Outro dia chegamos lá e fui abrindo a porta: o Brady avançou rosnando, mas quando minha filha gritou "it’s grandpa!" êle veio todo contente esfregar-se nas minhas pernas. É um cão inteligente e com portentosa memória. O gato Sam é, também, um belo animal, mas permanece arredio desde sempre.
Minha outra filha tem dois cães, um que adquiriu quando seu primeiro marido ainda era vivo, uma cadelinha Jack Russell a que deram o nome de Jackie. Depois, compadeceu-se de um filhote de Collie que encontrou num canil à espera de adoção e ficou com êle. Deu-lhe o nome de Beau, que em francês significa bonito, e que nos EUA também é usado como nome de gente. O Beau cresceu e se tornou um cão magestoso, faz sucesso em qualquer lugar que apareça, além de ser extremamente inteligente e carinhoso.
Esses dois cães sempre se lembram das pessoas que já tenham conhecido, por mais tempo que passem sem vê-las. Sempre nos reconhecem sem demora, - até reconhecem nossas vozes por telefone! E a cadelinha Jackie repetiu, de certa forma, o episódio da Bianca, porque uma das vizinhas e amiga de minha filha também se chama Jackie.
Visitando amigos em Pittsburgh, há algum tempo, êles nos apresentaram uma cadelinha a que chamam de Bete. Muito bonitinha e dócil, um encanto de animal. Um dia pediram para ficarmos com a Bete alguns dias em nossa casa porque iam viajar. Trouxeram a cachorrinha com seus petrechos e pertences, para que ela ficasse à vontade, e esclareceram que o nome "verdadeiro" da Bete é Elizabete Maria. Mais uma vez uma dessas "coincidências": uma de minhas irmãs se chama Elizabeth Maria (quase igual!), e muitos a chamam de Bete. Rimos muito quando ficamos sabendo.
Tenho certeza de que cada um de vocês tem alguma coisa interessante para contar a respeito de seus animais de estimação. Encorajo-os a colocar essas coisas por escrito: um dia as lerão com saudade.

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