População mundial
Luiz A. Góes
Dia desses ouvi, num documentário televisivo ou coisa parecida, que a população mundial se manteve durante muitos séculos em torno de um bilhão de pessoas, e que somente nos últimos duzentos anos explodiu para atingir o atual nível de sete bilhões.
A afirmação inicial de que a população mundial estava estabilizada em torno de um bilhão de pessoas por muitos séculos é incorreta, evidentemente, mas a segunda parte da frase, referente à explosão ocorrida nos últimos duzentos anos, assusta.
É extremamente difícil saber-se qual seria a população total da terra na antiguidade, mas estimativas baseadas em dados e fatos históricos apontam para 300 milhões de pessoas durante o primeiro milênio de nossa era, com crescimento bastante pequeno nesse período de mil anos.
Em meados do século XVIII recenseamentos mais acurados começaram a ser feitos, embora muito parcialmente, mas por volta do fim do século, ou seja, no ano 1800, estima-se que a população mundial se aproximava do primeiro bilhão de pessoas. Quer dizer: a velocidade de crescimento populacional tinha aumentado a ponto de ter pelo menos triplicado a população total global em cêrca de 800 anos, ou seja, menos de um milênio.
Mas já no século seguinte, entre 1800 e 1900, a população total global saltou para 1,65 bilhão de pessoas, ou seja, teve um crescimento de pelo menos 65%. A aceleração do crescimento populacional da terra se tornou mais do que evidente.
E espantosamente, durante o século XX, o grande salto se concretizou, porque a contagem chegou praticamente a 7 bilhões de pessoas no final do século, ou início do século atual. O crescimento populacional global foi, apenas no século XX, de 425% aproximadamente!
Estimativas da ONU prevêm para 2030 uma população global total da órdem de 8,3 bilhões. Será um crescimento de mais de 1 bilhão de humanos, ou de mais de 18%, em apenas 30 anos! A continuar nesse ritmo, já nem digo de crescimento, mas de aceleração do crescimento, daqui a pouco estaremos com acréscimo de 1 bilhão de humanos por ano ou até em menos tempo!
E a afirmação mencionada no início destas reflexões, embora imprecisa, revela-se verdadeira: em cêrca de dois séculos a população global total multiplicou-se por sete!
São numerosos os fatores que contribuiram para isso, mas não por coincidência observamos que justamente durante os séculos XIX e XX ocorreram as revoluções industriais, os conhecimentos científicos deram um salto monumental, e começaram a ocorrer grandes mudanças sócio-políticas, estas ainda em curso acelerado pelo mundo afora.
Nesse período foram colocados ao alcance das populações do mundo recursos antes extremamente raros ou totalmente inexistentes, dentre êles uma constante melhora dos padrões alimentares, os recursos da medicina e sistemas de saúde e, particularmente, as vacinas. Todos esses benefícios ainda estão muito longe de alcançar todos os povos e indivíduos, mas é evidente que sua contribuição tem sido fundamental para propiciar a ampliação constante da população global total.
As vacinas, principalmente, vêm produzindo enormes progressos por estarem contribuindo para um brusco estancamento da mortalidade infantil, historicamente sempre presente ao lado da alta taxa de natalidade em todo o mundo: embora alta, até então a taxa de natalidade nunca foi suficiente para contrabalançar com vantagem a alta taxa de mortalidade infantil, de modo que o crescimento populacional se mantinha em taxas relativamente baixas. As vacinas vêm, portanto, proporcionando um grande efeito positivo na preservação da vida a custo notavelmente baixo.
Estudos demográficos mostram que essas explosões de crescimento populacional ocorrem a nível de países individuais seguindo uma evolução semelhante à da chamada “curva do aprendizado”, que pode ser descrita resumidamente assim: nos primeiros anos de vida, a acumulação de conhecimentos por cada indivíduo é bastante lenta, mas começa a se acentuar quando atingida a atividade escolar, e vai se acentuando rapidamente à medida que a pessoa prossegue nos estudos, até atingir os níveis mais altos de educação formal em que o volume de novos conhecimentos acumulados ano a ano vai declinando até se tornar de novo um processo lento até o fim da vida.
No caso do crescimento populacional, e para simplificar o entendimento, pensemos apenas na evolução das taxas de natalidade e no impacto das vacinas. A população de um país como o Brasil, por exemplo, crescia mais ou menos lentamente, embora os brasileiros tivessem altas taxas de natalidade, com famílias geralmente numerosas, com grande número de nascimentos, mas também com altas taxas de mortalidade infantil. Iniciadas as campanhas de vacinação, a mortalidade infantil foi drasticamente reduzida, mas as taxas de natalidade continuaram altas por fôrça dos costumes e tradições, contando-se entre estas últimas, inclusive, aspectos de natureza religiosa. O resultado foi uma explosão populacional que durou vários anos, até que os efeitos de novos conceitos e conhecimentos se fizeram sentir e as taxas de natalidade começaram a cair, mais rapidamente nas regiões mais desenvolvidas e depois em todo o país, a ponto de atualmente o problema do crescimento populacional explosivo não mais se incluir entre as grandes questões a serem enfrentadas pelos governantes brasileiros.
Fenômeno semelhante está ocorrendo a nível mundial, cabendo observar que extensas regiões do mundo ainda se encontram em estágios iniciais da explosão populacional, ou no auge do crescimento populacional acelerado, o que explica os números comentados nos parágrafos acima e faz prever que esse crescimento acelerado ainda se prolongue por bom tempo, talvez por mais um par de séculos.
E aí está o grande paradoxo que se desenha diante de todos nós: salvando vidas ou as prolongando além de limites jamais conhecidos até aqui, multiplicam-se, para usar um lugar comum muito frequente, as bocas a serem alimentadas, as mentes a receberem escolaridade, a necessidade de moradias para abrigá-los, de meios de transporte para levá-los ao trabalho, de postos de trabalho para que possam ganhar a vida, de tudo, enfim, que a vida como a conhecemos inclue. E, paradoxalmente, a humanidade não se preparou para isso, e muito menos o planeta Terra multiplicou os recursos naturais, que vão se esgotando diante da exploração rapidamente crescente, para atender a todas essas necessidades.
Temos testemunhado grandes discussões a respeito de um sem número de problemas novos, dentre os quais a produção de alimentos e de energia, e a preservação do planeta, sobressaem sem qualquer dúvida. Nessas grandes discussões, nos grandes conclaves internacionais que se organiza para tanto, vemos que muito se fala mas dificilmente se consegue compromissos firmes por parte dos representantes dos diversos países para solucioná-los.
E a coisa é simples: a causadora de tudo é a humanidade, e só a própria humanidade poderá resolver esses grandes problemas, caso contrário condena-se a perecer em meio a suas consequências.
Dia desses ouvi, num documentário televisivo ou coisa parecida, que a população mundial se manteve durante muitos séculos em torno de um bilhão de pessoas, e que somente nos últimos duzentos anos explodiu para atingir o atual nível de sete bilhões.
A afirmação inicial de que a população mundial estava estabilizada em torno de um bilhão de pessoas por muitos séculos é incorreta, evidentemente, mas a segunda parte da frase, referente à explosão ocorrida nos últimos duzentos anos, assusta.
É extremamente difícil saber-se qual seria a população total da terra na antiguidade, mas estimativas baseadas em dados e fatos históricos apontam para 300 milhões de pessoas durante o primeiro milênio de nossa era, com crescimento bastante pequeno nesse período de mil anos.
Em meados do século XVIII recenseamentos mais acurados começaram a ser feitos, embora muito parcialmente, mas por volta do fim do século, ou seja, no ano 1800, estima-se que a população mundial se aproximava do primeiro bilhão de pessoas. Quer dizer: a velocidade de crescimento populacional tinha aumentado a ponto de ter pelo menos triplicado a população total global em cêrca de 800 anos, ou seja, menos de um milênio.
Mas já no século seguinte, entre 1800 e 1900, a população total global saltou para 1,65 bilhão de pessoas, ou seja, teve um crescimento de pelo menos 65%. A aceleração do crescimento populacional da terra se tornou mais do que evidente.
E espantosamente, durante o século XX, o grande salto se concretizou, porque a contagem chegou praticamente a 7 bilhões de pessoas no final do século, ou início do século atual. O crescimento populacional global foi, apenas no século XX, de 425% aproximadamente!
Estimativas da ONU prevêm para 2030 uma população global total da órdem de 8,3 bilhões. Será um crescimento de mais de 1 bilhão de humanos, ou de mais de 18%, em apenas 30 anos! A continuar nesse ritmo, já nem digo de crescimento, mas de aceleração do crescimento, daqui a pouco estaremos com acréscimo de 1 bilhão de humanos por ano ou até em menos tempo!
E a afirmação mencionada no início destas reflexões, embora imprecisa, revela-se verdadeira: em cêrca de dois séculos a população global total multiplicou-se por sete!
São numerosos os fatores que contribuiram para isso, mas não por coincidência observamos que justamente durante os séculos XIX e XX ocorreram as revoluções industriais, os conhecimentos científicos deram um salto monumental, e começaram a ocorrer grandes mudanças sócio-políticas, estas ainda em curso acelerado pelo mundo afora.
Nesse período foram colocados ao alcance das populações do mundo recursos antes extremamente raros ou totalmente inexistentes, dentre êles uma constante melhora dos padrões alimentares, os recursos da medicina e sistemas de saúde e, particularmente, as vacinas. Todos esses benefícios ainda estão muito longe de alcançar todos os povos e indivíduos, mas é evidente que sua contribuição tem sido fundamental para propiciar a ampliação constante da população global total.
As vacinas, principalmente, vêm produzindo enormes progressos por estarem contribuindo para um brusco estancamento da mortalidade infantil, historicamente sempre presente ao lado da alta taxa de natalidade em todo o mundo: embora alta, até então a taxa de natalidade nunca foi suficiente para contrabalançar com vantagem a alta taxa de mortalidade infantil, de modo que o crescimento populacional se mantinha em taxas relativamente baixas. As vacinas vêm, portanto, proporcionando um grande efeito positivo na preservação da vida a custo notavelmente baixo.
Estudos demográficos mostram que essas explosões de crescimento populacional ocorrem a nível de países individuais seguindo uma evolução semelhante à da chamada “curva do aprendizado”, que pode ser descrita resumidamente assim: nos primeiros anos de vida, a acumulação de conhecimentos por cada indivíduo é bastante lenta, mas começa a se acentuar quando atingida a atividade escolar, e vai se acentuando rapidamente à medida que a pessoa prossegue nos estudos, até atingir os níveis mais altos de educação formal em que o volume de novos conhecimentos acumulados ano a ano vai declinando até se tornar de novo um processo lento até o fim da vida.
No caso do crescimento populacional, e para simplificar o entendimento, pensemos apenas na evolução das taxas de natalidade e no impacto das vacinas. A população de um país como o Brasil, por exemplo, crescia mais ou menos lentamente, embora os brasileiros tivessem altas taxas de natalidade, com famílias geralmente numerosas, com grande número de nascimentos, mas também com altas taxas de mortalidade infantil. Iniciadas as campanhas de vacinação, a mortalidade infantil foi drasticamente reduzida, mas as taxas de natalidade continuaram altas por fôrça dos costumes e tradições, contando-se entre estas últimas, inclusive, aspectos de natureza religiosa. O resultado foi uma explosão populacional que durou vários anos, até que os efeitos de novos conceitos e conhecimentos se fizeram sentir e as taxas de natalidade começaram a cair, mais rapidamente nas regiões mais desenvolvidas e depois em todo o país, a ponto de atualmente o problema do crescimento populacional explosivo não mais se incluir entre as grandes questões a serem enfrentadas pelos governantes brasileiros.
Fenômeno semelhante está ocorrendo a nível mundial, cabendo observar que extensas regiões do mundo ainda se encontram em estágios iniciais da explosão populacional, ou no auge do crescimento populacional acelerado, o que explica os números comentados nos parágrafos acima e faz prever que esse crescimento acelerado ainda se prolongue por bom tempo, talvez por mais um par de séculos.
E aí está o grande paradoxo que se desenha diante de todos nós: salvando vidas ou as prolongando além de limites jamais conhecidos até aqui, multiplicam-se, para usar um lugar comum muito frequente, as bocas a serem alimentadas, as mentes a receberem escolaridade, a necessidade de moradias para abrigá-los, de meios de transporte para levá-los ao trabalho, de postos de trabalho para que possam ganhar a vida, de tudo, enfim, que a vida como a conhecemos inclue. E, paradoxalmente, a humanidade não se preparou para isso, e muito menos o planeta Terra multiplicou os recursos naturais, que vão se esgotando diante da exploração rapidamente crescente, para atender a todas essas necessidades.
Temos testemunhado grandes discussões a respeito de um sem número de problemas novos, dentre os quais a produção de alimentos e de energia, e a preservação do planeta, sobressaem sem qualquer dúvida. Nessas grandes discussões, nos grandes conclaves internacionais que se organiza para tanto, vemos que muito se fala mas dificilmente se consegue compromissos firmes por parte dos representantes dos diversos países para solucioná-los.
E a coisa é simples: a causadora de tudo é a humanidade, e só a própria humanidade poderá resolver esses grandes problemas, caso contrário condena-se a perecer em meio a suas consequências.
1 Comments:
At Sat Jul 07, 07:52:00 AM EDT, Artur Maciel said…
Muito curioso tudo isso, o que me leva a pensar nas "Previsões Científicas de 2012 e 2018", da NASA, que lhe mandei por e-mail hoje 07/07/12. O que haveria de verdade em tais previsões, meu caro Luiz Goes?
O mundo, com tantas bocas famintas e tanta corrupção que não deixa que tais famintos e "outros famintos" se abasteam, está, segundo as previsões, preparando para mudanças radicais, de imensas proporções, que me faz pensar e me prevenir desde já com minha família e alertar meus amigos, como acabo de fazer por e-mail, você incluído. Acredite ou não, algo, está sim por acontecer!
Post a Comment
<< Home