Observador Isento (Unbiased Observer)

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Saturday, December 15, 2012

Matando o mensageiro

Luiz A. Góes

É bastante conhecida de todos a história daquele rei da antiguidade que, sempre que recebia alguma mensagem de que não gostava, matava o mensageiro. Resultado: ninguém queria levar-lhe qualquer mensagem ou informação, porque não havia como saber de antemão se ia gostar da mensagem ou não, ou seja, se o mensageiro sobreviveria.
Na vida real de nossos dias essa prática de matar o mensageiro é mais frequente do que se imagina, e supera de longe o caso isolado daquele rei maluco.
De fato, as chamadas “queimas de arquivo” praticadas pelos poderosos, inclusive com assassinatos de testemunhas que, pelo sim, pelo não, possam vir a incomodar; as mortes providenciais de certas pessoas de que abundam exemplos, - o delegado Fleury, o PC Farias e sua mulher, - o sumiço de documentos; a proibição de investigar crimes e “malfeitos” de toda espécie; as nomeações de toda espécie de gente para cargos sem que preencham o mínimo de qualificação  exigida a fim de mantê-los em silêncio; o impedimento da tomada de depoimentos em várias instâncias de justiça e sobretudo nas casas e comissões de inquérito do Congresso; as numerosas tentativas de proibir o Ministério Público de investigar qualquer coisa, concentrando toda e qualquer investigação em órgãos sob as órdens e o contrôle dos detentores do poder central; a transformação das agências reguladoras, que são órgãos de estado, em órgãos subordinados ao executivo e comandados por políticos em lugar de técnicos altamente especializados; a supressão da publicação de contas do executivo a pretexto de “segurança nacional” para escapar a qualquer contrôle possível; e as numerosas e reiteradas tentativas de censurar a imprensa de um modo geral, - tudo isso não é nada mais do que o assassinato do mensageiro. São tantos esses assassinatos que se fica até mesmo cansado de enumerá-los.
Mas com uma diferença: o rei doido matava o mensageiro depois de receber a mensagem e dela não gostar, enquanto que atualmente os poderosos matam todo e qualquer mensageiro ou mensageiro em potencial antes que possa chegar a entregar a mensagem.
Essa prática aparentemente esdrúxula tem uma explicação muito simples: os poderosos de hoje sabem de antemão que as mensagens, quaisquer que sejam, nunca serão de seu agrado. E o sabem porque sabem muito bem a quantidade de “malfeitos” cometidos por si próprios e seus “companheiros”. Sabem-no porque o que tenham feito que consideram bem feito é por êles mesmos alardeado aos quatro ventos, restando a qualquer mensageiro entregar apenas mensagens relatando os seus “malfeitos”. E sabem que esses “malfeitos” são muito numerosos, a julgar pelo denodo com que se dedicam a silenciar a todos sem descanso e recorrendo para tanto a todo e qualquer meio sem qualquer escrúpulo.
Tudo isso está tão arraigado que se transfere generalizadamente para a esfera pessoal, com as pessoas maltratando amigos que lhes dizem verdades, que lhes apontam caminhos a seguir, até mesmo quando resultantes de pedidos de pareceres ou pontos de vista. Até na esfera da saúde isso se manifesta: muitos pacientes mudam de médico quando informados de que padecem de algum problema de saúde que não lhes agrada, a ponto de serem mais bem sucedidos os médicos que sempre dizem aos pacientes que estão bem, com saúde perfeita, mesmo quando se encontram correndo risco de vida. Matar o mensageiro tornou-se lugar comum.
Vivi há algum tempo um caso bastante curioso de morte do mensageiro, apesar de não ter sido eu o portador da mensagem e nem ter estado presente quando ela chegou. Foi assim: a esposa de um amigo descobriu acidentalmente, e diante de toda a sua família, que o marido tinha uma amante de longa data. Eu apenas desconfiava daquilo, porque os indícios eram numerosos, mas não via provas concretas e nem me interessava averiguar ou me envolver no assunto.
Fiquei sabendo do ocorrido pelos queixumes da mulher, que os apresentava à minha esposa mediante a condição de que eu não ficasse sabendo. Mas não foi preciso: o amigo cortou relações comigo sem qualquer explicação, o que me fez desconfiar de que algo tinha acontecido. Como dizia minha avó, o diabo ensina a fazer mas não ensina a esconder. (Os protagonistas dos numerosos escândalos que têm vindo a público ultimamente no Brasil que o digam.)

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