A Primeira Obra
Luiz A. Góes
Quando fui trabalhar na COSIPA, em 1962, aquilo era um enorme canteiro de obras, cheio de coisas começadas ou apenas ameaçando começar, e de espaços vazios reservados a coisas ainda apenas pensadas. Além, é claro, dos famigerados barracões de madeira em que se instalavam os escritórios onde trabalhávamos e improvisações de todo tipo. E boa parte do terreno estava tomada por enormes caixas e engradados contendo equipamentos que começavam a chegar, a maioria sôbre estivas para que não afundassem no mangue que era o real terreno sôbre o qual se construía a usina.
Havia apenas duas obras terminadas: o prédio provisório do escritório da administração, que era nada menos do que a casa da fazenda cujo terreno estava sendo utilizado, e o viaduto sôbre a ferrovia e o rio (acho que se chama rio Piaçaguera) que passam logo em frente à entrada principal da usina. Até mesmo o prédio da administração principal, e o restaurante dito da administração, estavam ainda em obras, apesar de já ocupados parcialmente.
A casa da fazenda havia sido apenas reformada para servir de escritório, não foi exatamente construída: já estava lá, e também foi ocupada de sopetão enquanto era reformada. A primeira obra completa de fato foi o tal viaduto, pelo qual todos tínhamos que passar todos os dias a menos que chegássemos à usina de trem. É uma obra que, na época, surpreendia porque surgia no meio do nada, depois de uma longa estrada enlameada e esburacada com mato por todos os lados.
Consta que antes havia uma ponte de madeira sôbre o rio e uma passagem em nível sôbre a ferrovia.
Num dia quente daqueles de janeiro, os engenheiros que já haviam sido designados para trabalhar na obra estavam reunidos no escritório provisório, a tal casa da fazenda, quando alguém veio avisar que havia chegado um caminhão carregado, o primeiro com suprimentos para o início das obras, e estava parado no outro lado do rio.
O pessoal resolveu ir até lá e se deu conta de que tinham um problema inesperado nas mãos: a tal ponte de madeira, segundo uma velha placa que lá estava, não suportava cargas brutas maiores do que três toneladas, e aquele caminhão seguramente pesava muito mais do que isso. Pensaram em descarregar e levar as coisas uma a uma para o páteo da usina, mas se tratava de carga pesada, de modo que ficaram discutindo um pouco o assunto sem encontrar uma solução imediata.
Mas o sol fê-los tomar uma decisão, esta sim, imediata: voltar para o escritório e continuar a discutir o assunto lá, porque estava de doer os miolos. Discute que discute, de repente um deles olhou pela janela e viu o caminhão bem ali, diante deles.
Alarmados, foram lá para fora e interrogaram o motorista: meio desengonçado o infeliz explicou que ao chegar parece que havia visto uma placa indicando carga máxima de três toneladas, mas que devia ter sido algum engano, porque não havia placa nenhuma lá, e como ninguém havia dito nada a êle, resolveu passar a ponte e ir acabar de entregar sua carga no local correto.
Incrédulos, os engenheiros correram para a ponte, e de fato não mais encontraram a famigerada placa, que deu um sumiço daqueles, nunca mais foi localizada. Algum gaiato, no meio da confusão que havia se armado, arrancou a placa e escafedeu-se com ela para local ignorado.
No caminho de volta para o escritório, os conscienciosos profissionais tomaram a decisão mais importante do dia, que puzeram imediatamente em prática: escreveram um minucioso e alarmante relatório para a diretoria, pràticamente exigindo que a construção do viaduto, - que estava provàvelmente sendo discutida ou negociada com a municipalidade ou com o Estado, - fosse atacada imediatamente, porque não haveria como abastecer as obras.
E assim, a primeira obra foi imediatamente realizada, em terreno externo ao da usina, em realidade a via pública, e consumindo recursos que não estavam no orçamento do projeto siderúrgico.
Ainda haveriam de suceder muitos desses imprevistos antes que a usina pudesse entrar em operação: a moda havia sido apenas inaugurada.
Há gente que sabe dessa história melhor do que eu, que a estou contando por tê-la ouvido como explicação para o fato de que a única obra realmente concluida quando cheguei à usina era aquele viaduto, espécie de tapete vermelho para o lamaçal que enfrentamos por bom tempo. Se algum de vocês souber de alguém que possa dar um testemunho mais preciso, peço que o faça, e que corrija as imprecisões que eu possa estar cometendo.
Quando fui trabalhar na COSIPA, em 1962, aquilo era um enorme canteiro de obras, cheio de coisas começadas ou apenas ameaçando começar, e de espaços vazios reservados a coisas ainda apenas pensadas. Além, é claro, dos famigerados barracões de madeira em que se instalavam os escritórios onde trabalhávamos e improvisações de todo tipo. E boa parte do terreno estava tomada por enormes caixas e engradados contendo equipamentos que começavam a chegar, a maioria sôbre estivas para que não afundassem no mangue que era o real terreno sôbre o qual se construía a usina.
Havia apenas duas obras terminadas: o prédio provisório do escritório da administração, que era nada menos do que a casa da fazenda cujo terreno estava sendo utilizado, e o viaduto sôbre a ferrovia e o rio (acho que se chama rio Piaçaguera) que passam logo em frente à entrada principal da usina. Até mesmo o prédio da administração principal, e o restaurante dito da administração, estavam ainda em obras, apesar de já ocupados parcialmente.
A casa da fazenda havia sido apenas reformada para servir de escritório, não foi exatamente construída: já estava lá, e também foi ocupada de sopetão enquanto era reformada. A primeira obra completa de fato foi o tal viaduto, pelo qual todos tínhamos que passar todos os dias a menos que chegássemos à usina de trem. É uma obra que, na época, surpreendia porque surgia no meio do nada, depois de uma longa estrada enlameada e esburacada com mato por todos os lados.
Consta que antes havia uma ponte de madeira sôbre o rio e uma passagem em nível sôbre a ferrovia.
Num dia quente daqueles de janeiro, os engenheiros que já haviam sido designados para trabalhar na obra estavam reunidos no escritório provisório, a tal casa da fazenda, quando alguém veio avisar que havia chegado um caminhão carregado, o primeiro com suprimentos para o início das obras, e estava parado no outro lado do rio.
O pessoal resolveu ir até lá e se deu conta de que tinham um problema inesperado nas mãos: a tal ponte de madeira, segundo uma velha placa que lá estava, não suportava cargas brutas maiores do que três toneladas, e aquele caminhão seguramente pesava muito mais do que isso. Pensaram em descarregar e levar as coisas uma a uma para o páteo da usina, mas se tratava de carga pesada, de modo que ficaram discutindo um pouco o assunto sem encontrar uma solução imediata.
Mas o sol fê-los tomar uma decisão, esta sim, imediata: voltar para o escritório e continuar a discutir o assunto lá, porque estava de doer os miolos. Discute que discute, de repente um deles olhou pela janela e viu o caminhão bem ali, diante deles.
Alarmados, foram lá para fora e interrogaram o motorista: meio desengonçado o infeliz explicou que ao chegar parece que havia visto uma placa indicando carga máxima de três toneladas, mas que devia ter sido algum engano, porque não havia placa nenhuma lá, e como ninguém havia dito nada a êle, resolveu passar a ponte e ir acabar de entregar sua carga no local correto.
Incrédulos, os engenheiros correram para a ponte, e de fato não mais encontraram a famigerada placa, que deu um sumiço daqueles, nunca mais foi localizada. Algum gaiato, no meio da confusão que havia se armado, arrancou a placa e escafedeu-se com ela para local ignorado.
No caminho de volta para o escritório, os conscienciosos profissionais tomaram a decisão mais importante do dia, que puzeram imediatamente em prática: escreveram um minucioso e alarmante relatório para a diretoria, pràticamente exigindo que a construção do viaduto, - que estava provàvelmente sendo discutida ou negociada com a municipalidade ou com o Estado, - fosse atacada imediatamente, porque não haveria como abastecer as obras.
E assim, a primeira obra foi imediatamente realizada, em terreno externo ao da usina, em realidade a via pública, e consumindo recursos que não estavam no orçamento do projeto siderúrgico.
Ainda haveriam de suceder muitos desses imprevistos antes que a usina pudesse entrar em operação: a moda havia sido apenas inaugurada.
Há gente que sabe dessa história melhor do que eu, que a estou contando por tê-la ouvido como explicação para o fato de que a única obra realmente concluida quando cheguei à usina era aquele viaduto, espécie de tapete vermelho para o lamaçal que enfrentamos por bom tempo. Se algum de vocês souber de alguém que possa dar um testemunho mais preciso, peço que o faça, e que corrija as imprecisões que eu possa estar cometendo.
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