Observador Isento (Unbiased Observer)

A space for rational, civilized, non-dogmatic discussion of all important subjects of the moment. - Um espaço para discussão racional, civilizada, não dogmática de todos os assuntos importantes do momento.

Monday, September 24, 2007

A importância das fazendas

Luiz A. Góes
Tive, por circunstâncias totalmente não planejadas, uma pequena fazenda, que vendi há vários anos.
Quando mencionava que tinha uma fazenda, meus colegas e amigos frequentemente diziam: "Você já conseguiu!?"
Esse "já" me soava esquisito: parecia que êles achavam que tudo o que se tinha de conseguir na vida era ter uma fazenda.
Em realidade, foi assim que o Brasil começou, porque o mundo era assim na época do descobrimento: a terra era a riqueza, era o poder, era a fôrça, era símbolo de superioridade. E esse sentimento parece continuar até os nossos dias: todo brasileiro só se considera bem sucedido quando chega a possuir uma fazenda, ou pelo menos um sítio onde possa passar seus finais de semana.
Assistindo à sequência de eventos pouco edificantes no meio político em tempos recentes, vemos que todos os políticos, quase sem exceção, acabam "explicando" ou "justificando" seus atos, bem feitos ou mal feitos, por meio de alusão a alguma fazenda, a ganhos não percebidos ou não contabilizados por meio delas, como se fosse mágica, como tirar um coelho de uma cartola. Ao mesmo tempo que a agroeconomia vai ajudando a carregar nas costas o país do abuso e do desperdício, do faz de conta econômico e da incompetência, os fazendeiros amadores, - porque literalmente amam suas fazendas quando delas se socorrem para se justificarem, - vão como que difamando a agroeconomia, tantos são os ilícitos que de repente, como tábua de salvação, revelam praticar por meio delas.
Ficou célebre uma peça teatral e televisiva chamada "O Comprador de Fazendas", de cujo autor não me recordo, protagonizada magistralmente por Procópio Ferreira, entre outros: uma estória em que um fazendeiro economicamente quebrado tantava vender sua fazenda a um comprador incauto, sem perceber que esse comprador incauto era um tremendo malandro que queria apenas passar uns tempos na fazenda comendo e bebendo sem nada ter que pagar, para depois "desistir" da compra e se transferir para outra fazenda onde faria a mesma coisa: era um "comprador de fazendas" profissional. Na peça, nem o vendedor, que tentava enganar o tal comprador, e nem o comprador, que tentava enganar o vendedor, contavam com um fator fora do alcance de ambos: o falso comprador se apaixonou pela filha do vendedor, e foi correspondido. Nada a ver com um certo senador de nossos dias.
Desde os meus tempos de menino ouço falar dessas coisas… como direi… meio esquisitas que se passam nas fazendas. Em minha vida profissional tive frequentes contactos com o fato de que o dinheiro não declarado, o dinheiro escondido do fisco, era guardado sob a forma de gado no campo, coisa difícil de controlar, muito embora ao longo dos anos os govêrnos venham apertando o cêrco progressivamente.
Surgiu inclusive o artifício de guardar dinheiro sob a forma de "vacas imortais", um arranjo incrível que consiste em entregar o dinheiro para comprar as vacas a um "arrendatário" delas, o qual se compromete a entregar o valor de um bezerro para cada vaca por ano, mais um porcentual da renda combinada da produção de leite da mesma. Essas vacas nem precisam existir de fato, contanto que o "arrendatário" pague os valores combinados todos os anos. Como não existem, ou seja, como são apenas virtuais, não morrem: são "eternas". Mas tudo se passa oficialmente como se houvesse real atividade agropecuária, com os respectivos "custos" e com os níveis de impostos que a lei faculta.
Muitas histórias correm paralelas ao vasto anedotário sôbre os caipiras e interioranos de todos os tipos que ilustram de maneira marcantemente saborosa a cultura brasileira. Com a diferença, entretanto, que o anedotário exagera certas coisas para produzir comicidade e humor, enquanto que essas histórias que correm paralelas são histórias mesmo, acontecem de verdade.
Videndo em fazendas, e pelo interiorzão afora, pode-se aquilatar, por exemplo, quanto fora da realidade se encontram os linguistas que querem constantemente modificar a maneira de escrever o idioma, alegando buscar a uniformidade com o português de outros países de língua portuguesa, sem se darem conta, ou sequer se lembrarem, de que pelo Brasil afora existe uma riqueza linguística incrível e virtualmente ignorada ou desconhecida, mas importante demais para ser deixada de lado. O que esses linguistas, que não passam de uns tremendos ignorantes, deviam deixar de lado são essas pretensões de quererem mandar no idioma, cuja única autoridade é sempre o povo que o fala e usa no seu dia a dia, e pelo menos tentarem estudar a riqueza idiomática do país.
Não são muito numerosos os escritores, por exemplo, que se preocuparam em registrar de alguma forma esse fato, podendo-se citar alguns, sobremaneira notáveis, como Guimarães Rosa, Jorge Amado, Érico Veríssimo, …
Na minha fazendinha trabalhava como "retireiro", - aquele que cuida do "retiro", aonde as vacas leiteiras são atraídas todas as manhãs pelos mugidos de seus bezerros famintos, para delas tirar o leite para venda ou consumo e em seguida deixar que os bezerros dêm conta do que sobra (geralmente uma das quatro tetas é deixada para o bezerro), - e, como eu dizia, aquele rapaz, solteiro, vivia em companhia de seus pais. Assim, habitavam uma pequena casa da fazenda próxima ao "retiro", e o pai do rapaz ganhava a vida fazendo parceria agrícola comigo: era um dos vários parceiros que eu contratava todos os anos.
Tive inicialmente um bocado de trabalho para me entender com aquela gente, cujo linguajar sempre foi muito diferente de tudo aquilo que eu conhecia, mas acabei me acostumando e até adotando algumas de suas expressões sempre que estava com êles. O meu "retireiro" era alfabetizado, embora eu deva dizer que a rigor estava apenas semi-alfabetizado, mas seus pais eram totalmente analfabetos e era tarde demais para tentar ensinar-lhes qualquer coisa no sentido de ler e escrever. Até para dizer seus próprios nomes tinham dificuldade, e eu preferia sempre pedir algum documento de identidade quando precisava escrever o nome de alguém em contratos ou o que fosse, mesmo que o contratado "assinasse" apenas apondo sua impressão digital do dedão direito. A maneira como o pai do rapaz dizia o seu próprio nome não correspondia ao que estava escrito em sua cédula de identidade, mas não havia como convencê-lo a dizê-lo corretamente, porque não lia.
Lembro-me do dia em que resolvi mandar abrir um novo poço. Minha sogra, já bastante idosa, ainda se considerava a mandatária maiór do pedaço, e ao ouvir falar no novo poço, fez questão de ir até lá para escolher o local. Concordei, evidentemente, apesar da dificuldade que aquilo representava para ela.
Ao vê-la, o pai do meu "retireiro", - que estava com 49 anos mas parecia ter bem mais de 60, tal o desgaste que o sol constante sôbre a cabeça causa, - ficou observando em silêncio. Na próxima vez que lá fui, êle perguntou a idade de minha sogra. Disse-lhe que ela estava com oitenta e sete (acho que era mais ou menos isso), ao que êle comentou: "Uma veis eu conheci duas veinha bem veinha qui nem ela, uma branquinha e uma pretinha. A branquinha inda tava bem forgada, ansim qui nem a sua sogra, mais a pretinha já tava bem escafolada…"
Essa frase se tornou, para mim, antológica, porque resumiu todo um linguajar específico e local, ao mesmo tempo que chamou minha atenção para a diferença entre as expectativas de vida do homem do campo que labuta em pequenas propriedades e os que vivem nas cidades: aquele homem morreu bem antes de chegar aos sessenta. Não foi por acaso que a idade de minha sogra e das tais "veinhas" chamou-lhe a atenção.
A vida nas fazendas, ou no campo, como queiram, é também responsável por muitas das tradições brasileiras, por suas crenças, seus costumes e até mesmo, - porquê não dizer? – pelos principais traços de personalidade dos brasileiros. Os nossos chamados caipiras têm muito a nos ensinar, mas infelizmente estamos perdendo essas lições, até mesmo porque a eletrificação rural vai deturpando tudo à medida em que a televisão cultua, em suas célebres novelas, personagens de comportamento duvidoso e em que difunde o linguajar das grandes capitais por todo o país.
Minha sogra costumava organizar todos os anos uma festa junina na fazenda, à qual comparecia em massa a vizinhança toda. Era uma oportunidade para a gente se atualizar, ficar sabendo quem era quem, conhecer as crianças que tinham nascido durante o ano, e até mesmo para combinar coisas como consertar cêrcas, saber quem queria comprar ou vender o quê, saber quem estava doente, quem tinha morrido, e por aí vai.
Essas festas eram extrememente pitorescas, embora não fossem nada ensaiadas: havia quentão, paçoca, pipoca, churrasco, farofa, - enfim, tudo aquilo que se pode imaginar como pertencente à comida de uma festa junina tradicional. Mas antes se rezava o terço, sempre com alguém lendo os mistérios do rosário aplicáveis e tudo: surpreendentemente sempre surgia algum vizinho capaz de fazer aquelas leituras.
Depois do terço, os rapazes fincavam um poste bem alto num buraco que tinham pré-preparado: no alto do poste já iam fixados aqueles quadrinhos de pano com as efígies de São João, São Pedro e Santo Antonio, e em seguida se fazia uma espécie de procissão ao redor da casa da fazenda, com todos os presentes levando nas mãos uma vela acesa e cantando os hinos religiosos mais conhecidos pelo pessoal (eu não os reconhecia muito, não tinham muita semelhança com os que eu conhecia).
No final da procissão, as moças solteiras de todas as idades presentes aproximavam-se do tal poste e seguravam suas velas apertando-as contra o mesmo até ficarem coladas: segundo elas, se a vela não queimasse até o fim grudada ao poste, sua dona não encontraria marido.
Estava então aberta a festa propriamente dita, em que havia comida, bebida, e dança no terreiro, com sanfoneiro e tudo. Levantavam um poeirão danado, mas se divertiam à bessa.
A música era mais ou menos assim: firin-fonfon, firin-fonfon, firin-fonfon…, com um pandeirista que acompanhava dando umas pancadas no pandeiro como que fazendo pam-pam-pam, pam-pam-pam… infindavelmente, até que o sanfoneiro se cansava e davam uma parada para comer e beber. Logo mais recomeçavam com uma "outra música", que era mais ou menos assim: fonfon-firin, fonfon-firin, fonfon-firin…, sempre com o pandeirista acompanhando com o seu pam-pam-pam. Não era a música o que era importante, e sim a oportunidade que a dança proporcionava para os jóvens se conhecerem, muito embora não parecesse que alguém se dava conta disso.
Num daqueles anos vieram umas moças de uma fazenda vizinha pedir para que minha sogra mandasse preparar um quentão mais fraco, porque o nosso vizinho fazendeiro levava o pessoal todo no carro que puxava com o seu trator, e no ano anterior, depois de beber um bocado, êle tinha resolvido voltar para casa por meio do pasto em lugar de ir pela estrada: tinha sido um tal de subir e descer barrancos, de solavancos de todos os tipos, que quase tinham acabado com os fundilhos da turma.
Um dos diretores de empresa em que trabalhei era um desses fazendeiros que chamei acima de amadores, mas sua fazenda era realmente exemplar: êle empregava técnicas modernas, bons equipamentos, e pessoal bastante capacitado. Podia-se dizer que era uma fazenda modelo. Um dia organizou uma festa lá e convidou o pessoal da empresa. Tinha prestígio junto à ferrovia, que passava por dentro da fazenda, e conseguiu três carros-leitos, que lotamos num instante. O pessoal estava todo muito excitado e falante quando o trem se pôs em movimento, de modo que ninguém parecia querer ir dormir muito cedo. E assim fomos procurar nos outros vagões outras distrações: num instante descobriram uma pequena sala de estar, onde começaram a jogar baralho. Os solavancos do trem faziam as cartas dos oponentes se misturarem constantemente, o que causava boas gargalhadas, e assim o joguinho se prolongou noite a dentro, até que o sono lentamente nos venceu.
Quando acordamos de manhã, os vagões estavam parados num pequeno desvio onde o resto do trem, que seguiu viagem, os tinha deixado, e o nosso anfitrião estava ao lado deles tentando acordar a turma porque o churrasco já estava sendo assado.
Ainda levou um bocado de tempo até realmente chegarmos a comer o tal churrasco, porque antes fomos visitar toda a fazenda, que não era pequena e tinha muitas coisas boas para serem vistas, gado de excelente qualidade, pastagens extremamente bem cultivadas, plantações altamente esmeradas e produtivas e instalações muito bem construídas.
Depois do churrasco, começamos a bater bola num pequeno gramado que havia junto à casa principal da fazenda. Havia caido uma chuvinha fina e o tal gramado ainda estava meio molhado. Levei um escorregão que resultou num tombaço: fiquei todo dolorido e tive alguma dificuldade para me levantar. Fui saindo de vagar e resolvi sentar-me para descansar. Olhei para o relógio e percebi que tinha jogado apenas uns 10 minutos, mas aqueles 10 minutos tinham me parecido uma eternidade. Foi, por sinal, uma das últimas vezes que me lembro de ter jogado bola.
No fim do dia reembarcamos nos vagões e um outro trem que passava levou-nos de volta a São Paulo.
Outro de meus superiores tinha um sítio bem cuidado, do qual muito se orgulhava, e frequentemente convidava numerosas pessoas para irem até lá nos finais de semana, fosse num sábado ou num domingo. Numa desssas ocasiões havia um certo número de representates de fornecedores estrangeiros fazendo algum trabalho na empresa, e foram todos convidados para uma dessas visitas, na qual ficaram incluidos vários empregados da empresa para ajudar a ciceroneá-los de alguma forma.
O dono do sítio fazia questão de mostrar as suas várias iniciativas agrícolas, embora em pequena escala, explicando com certo pormenór os diversos aspectos de cada cultura. Foi interessante vê-lo explicar como era a cultura dos morangos, por exemplo, tanto pelo lado da técnica daquela cultura quanto pelo seu lado econômico, em que êle explicava o destino comercial das diversas "qualidades" de morangos: desde os de primeira qualidade que, como êle dizia, eram "para a mesa", até os de última qualidade, que serviam para fazer muitas coisas como sorvetes e cremes diversos.
Os estrangeiros convidados não pareciam muito interessados nas explicações, mesmo porque poucos as compreendiam em português. Mas estavam todos imensamente interessados nas jóvens que lá estavam, seguramente parentes ou filhas de amigos de nosso anfitrião. O ambiente ficou um tanto engraçado, porque alguns daqueles sujeitos arriscavam alguns avanços, que pensavam estar disfarçando suficientemente, para o lado das tais meninas, e elas pareciam divertir-se por terem que ficar fugindo dos tais avanços.
Não havia muito gado naquele sítio, mas havia gado de alta qualidade, particularmente um touro magnífico, que tinha por nome o nome de uma música que fazia muito sucesso na época, algo como Jabaculê, Cabuletê, sei lá. Nosso anfitrião descreveu toda a árvore genealógica daquele touro, e explicou porquê o tinha escolhido, tendo em conta a estirpe das suas vacas. Em dado momento, com todos olhando para o touro, êste começou a ficar extremamente nervoso, e o anfitrião então procurou acalmar a turma dizendo que aquela agitação era porque uma vaca no cercado ao lado devia ter entrado no cio, o que o touro percebia pelo cheiro … ao que um italiano, que era um dos convidados estrangeiros, replicou sem pestanejar: "Siamo due!"
Fez-se silêncio, porque ninguém encontrou nada apropriado para dizer, muito embora contivéssemos a custo o nosso riso. O nosso anfitrião deve ter concluído imediatamente que aquele pessoal devia ter bebido além da conta e estava na hora de enchê-los de comida e despachá-los o mais depressa possível, porque rapidamente deu por encerradas as tais explicações.
A última "experiência" que tive com a minha fazendinha foi bastante curiosa: eu tinha remanejado as estradas vicinais que a cortavam, transferindo todas elas para junto das divisas com os vizinhos, a fim de evitar que transeuntes passassem por dentro da fazenda e para fazer com que as áreas de pastagens e de plantações fossem mais contínuas. Essas estradas vicinais, assim como todas as demais do município, eram conservadas pela prefeitura municipal.
Repentinamente recebi uma intimação para me manifestar num processo de um vizinho que pedia "revisão de área" de sua fazenda. Êle era um dos herdeiros de um fazendeiro que tinha três fazendas quase contíguas, e tinha lhe cabido uma área que fazia cêrca com a minha fazendinha. Quando li o processo, quase caí de costas, porque a "revisão de área" que êle pleiteava iria simplesmente aumentar a área de sua fazenda de uns quinze alqueires para uns setenta ou mais! O processo não afetava a minha propriedade, mas todos os confrontantes tinham que manifestar anuência em relação à pretensão para que ela fosse acolhida. Verifiquei que, logo em seguida, aquele vizinho tinha avançado a cêrca mais ou menos um metro para dentro da estrada vicinal, que estava em minha propriedade, - inclusive já contrariando a descrição geodésica que tinha apresentado no próprio processo.
Compreendi rapidamente que aquela era a maneira dele e de todos os seus parentes de conseguirem ser donos de grandes fazendas: êles iam avançando as cêrcas, um pouquinho cada ano, para dentro das terras vizinhas, sabendo que para fazer voltar a cêrca à situação original seria necessário que o vizinho prejudicado movesse ação, sempre com resultados duvidosos e custos não compensadores. A única maneira de fazê-los recuar seria aplicando o método "persuasório" mais tradicional, que alguns ainda usavam mas estava ficando cada vez mais raro: a ameaça física por meio de jagunços. Não era à tôa que aquele vizinho costumava oferecer churrascos nos fins de semana ao pessoal da polícia: queria ter "a lei" a seu lado, muito embora corressem na área as histórias do falecido avô, certa vez preso por roubo de gado e levado para ser julgado em S. Paulo, onde subornou alguma autoridade e se livrou do processo; de um dos filhos daquele velho e pai do meu vizinho esperto, o qual conheci casualmente mas que vivia foragido porque tinha cometido um crime havia muitos anos e não podia aparecer; e de um outro neto do mesmo velho, que veio a herdar outra fazenda dele, o qual também foi pêgo roubando gado (que pertencia a uma de minhas cunhadas) e sumiu do pedaço para não ser preso, só reaparecendo anos depois, quando o assunto estava mais ou menos esquecido. Isso além de outros "causos" que não vou mencionar.
Pois bem: fiquei revoltado com o que estava acontecendo quanto ao tal processo e à maneira como o vizinho esperto movimentava as cêrcas, mas nada podia fazer. Só que o acaso veio como que me ajudar, porque era necessária a citação de minha esposa também, e o oficial de justiça jamais conseguiu localizá-la, embora nós nada tenhamos feito para evitar a citação. Passado algum tempo, fomos informados de que o processo tinha sido encerrado por solicitação do reclamante. Mas logo depois surgiu um outro processo idêntico, no qual, entretanto, êle deu como confrontante não a minha propriedade, mas a prefeitura do município, - que não era proprietária de nada, - porque a estrada vicinal estava junto à cêrca!
Nesse ínterim vendi a fazendola, mas soube depois que o tal vizinho esperto comprou todo mundo na justiça e na prefeitura e fez com que a sua pretensão fosse acolhida: literalmente roubou a fazenda dos vizinhos sob o amparo da lei.