Observador Isento (Unbiased Observer)

A space for rational, civilized, non-dogmatic discussion of all important subjects of the moment. - Um espaço para discussão racional, civilizada, não dogmática de todos os assuntos importantes do momento.

Monday, August 29, 2011

Domingo movimentado, sujeito misterioso

Luiz A. Góes

Contrariando nosso costume de vários anos, de ir à missa no sábado à tarde, fomos, no último final de semana, assistir à missa no domingo pela manhã... quer dizer, à missa da quase hora do almoço, porque começa às onze e meia. E dali praticamente todos seguem para suas casas ou para restaurantes para terminar o ato com um almoço que recupere as fôrças "gastas" naquele sacrifício.
A igrejinha que frequentamos é pequena e fica bem perto de onde moramos: dá para ir a pé, mas geralmente os mais idosos preferem ir de automóvel, estacionando nas imediações e dando uma gorgeta a uns "guardadores" que sempre aparecem quando se volta ao veículo depois da missa.
Frequentemente encontramos por lá velhos conhecidos, ou conhecidos velhos, o que atualmente dá exatamente na mesma. E encontramos também algumas figuras interessantes, como certos políticos que ficam olhando para a gente como que a dizer: "Veja bem, reconheça-me, estou na igreja, sou bom cristão como você..." (Esses, creio eu, também comparecem a igrejas e templos de outros tipos, com a mesma finalidade.)
Nesse domingo, logo à entrada notamos um indivíduo todo de branco sentado na ponta de um dos bancos junto à porta, o qual fez questão de olhar bem para nós todas as vezes em que teve oportunidade. Pouco depois, um acontecimento inusitado nos fez esquecer o indivíduo todo de branco, para logo depois nossa atenção ser novamente despertada por êle.
O que sucedeu foi que poucos minutos antes de começar cada missa, e como de costume, o padre mandou tocar o sino a fim de alertar os fiéis residentes nas proximidades, os quais costumam se apresentar no último minuto e acabam de encher a igreja, sempre meio vazia até então.
O movimento de pessoas aumenta consideravelmente e logo em seguida é anunciado o início da missa. Assim que o sino deu a primeira badalada, ouviu-se um tremendo estrondo, acompanhado de forte tremor de todo o prédio da igreja. Todos se levantaram, alarmados, e o padre, que já se encontrava pronto para adentrar a pequena nave, voltou imediatamente a seu escritório ou equivalente, - o local onde se paramenta para presidir os atos religiosos.
Em poucos segundos percebemos o quê tinha acontecido: o sino tinha despencado de sua posição normal, causando o estrondo e o abalo que tínhamos sentido. Olhei para o lado do chamado "coro", onde ficam o órgão e os cantores, e notei que o lustre que o ilumina tinha se desprendido da respectiva corrente e estava balançando preso apenas pelo fio elétrico que o alimenta. Dirigi-me imediatamente ao tal escritório do padre, para avisar sôbre isso, mas apesar de meu aviso o padre decidiu dar andamento à missa, deixando eventuais providências para depois.
Nesse momento, o sujeito todo de branco se levantou e deixou a igreja com passos apressados: deve ter tido motivos para levar um susto maiór do que o dos demais circunstantes, e permanecido sentado até então, recompondo seus pensamentos para só então decidir retirar-se.
Quem seria aquele indivíduo?

Wednesday, August 17, 2011

Todos pernambucanos

Luiz A. Góes

O grande e famoso humorista José Vasconcelos fazia, algumas décadas atrás, piadas a respeito da "modéstia" dos pernambucanos. Dava numerosos exemplos, e terminava com dois, que gravei.
O primeiro era o slogan de apresentação da Rádio Jornal do Comércio, de Recife. Êle imitava o locutor recifense mais ou menos assim: "RRRadiu Jórrrnal du Cómérrrciu du RRRécifi falandu para u muuunduu..."
O outro era a definição de Recife pelos recifenses: "RRRécifi é u lugarr ondi u Bébéribi i u Capibéribi si incontram para fórrrmarrr u Océanu Atlââânticuuu..."
Aquele humorista se esquecia, naquela época, de mencionar certo presidente que se gabava de estar fazendo "cinquenta anos em cinco" nas obras de seu mandato. Mineiro, seguramente aquele presidente tinha se tornado pernambucano de coração.
Anos depois apareceu outro, pernambucano de nascimento, que cunhou a frase "nuncaantesnestepaís" para adjetivar tudo o que fazia, o que os outros tinham feito e êle dizia ter sido êle, e até o que tinha deixado de fazer, como que apagando toda a história do país antes de seu "miraculoso" surgimento.
Agora temos novamente um governante, - ou melhor, uma governanta, como ela deseja, - também mineira se naturalizando pernambucana, porque está divulgando novo slogan superlativo e altamente extrapolativo: "Estamos fazendo o que deveria ser feito em 100 anos..."
De minha parte, ainda não vi o quê, ou em quê consiste esse novo "milagre". Vamos esperar para ver.

P.S. José Vasconcelos veio a falecer pouco tempo depois de eu o ter citado neste comentário. Sem dúvida nos fará muita falta.