Observador Isento (Unbiased Observer)

A space for rational, civilized, non-dogmatic discussion of all important subjects of the moment. - Um espaço para discussão racional, civilizada, não dogmática de todos os assuntos importantes do momento.

Friday, October 26, 2007

As velocidades do tempo

Luiz A. Góes

O quê é o tempo? Todos sabemos que é algo que não devemos "perder", e que passa, mas muito poucos de nós sabemos o quê é.
Nas ciências físicas o tempo é definido como "o resultado da comparação de um movimento com um movimento padrão chamado relógio".
Quer dizer: o quê é um relógio? Taí: relógio é um movimento padrão.
Por convenção mundial, adotamos o tempo que a terra leva para dar uma volta completa em torno de si mesma como o movimento padrão, o relógio universal, e dividimos esse tempo em 24 horas, a hora em 60 minutos, e o minuto em 60 segundos, para ficar mais cômodo. E simulamos esse movimento padrão por meio dos chamados relógios de parede, de bolso, de pulso, etc, que chamamos de relógio sem nos darmos conta de que estamos chamando esses aparelhos pelo nome do movimento padrão universal.
Tudo o que fazemos todos os dias, todos os nossos movimentos, sejam êles de que natureza sejam, são comparados ao movimento padrão, ao relógio universal, e assim ficamos sabendo quanto tempo leva para cada coisa ser feita, para cada coisa acontecer, etc.
Mas no decorrer da vida notamos que o tempo às vezes é mais "rápido" e às vezes mais "lento". Porquê será?
O artigo abaixo, extraido do Estadão (infelizmente recebi sem a data) contém uma boa explicação para esse fenômeno, ou, melhor dito, essa impressão:

"O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos.
Por Airton Luiz Mendonça (Artigo do jornal o Estado de São Paulo)

Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma mobília, sem portas ou janelas, sem relógio... você começará a perder a noção do tempo. Por alguns dias, sua mente detectará a passagem do tempo sentindo as reações internas do seu corpo, incluindo os batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede e pressão sanguínea.
Isso acontece porque nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, comoo nascer e o pôr do sol. Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar:
Nosso cérebro é extremamente otimizado. Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho. Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia. Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar conscientemente tal quantidade. Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do dia e portanto, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo. É quando você se sente mais vivo. Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e 'apagando" as experiências duplicadas. Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais rapidamente. Quando começamos a dirigir automóveis, tudo parece muito complicado, nossa atenção parece ser requisitada ao máximo. Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os sinais ou até falando ao celular ao mesmo tempo. Como acontece? Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente); O cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências passadas e usa, no lugar de repetir realmente a experiência). Em outras palavras, você não vivenciou aquela experiência, pelo menos para a mente. Aqueles críticos segundos de troca de marcha, leitura de placa... São apagados de sua noção de passagem do tempo... Quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente apaga a experiência repetida. Conforme envelhecemos, as coisas começam a se repetir -as mesmas ruas, pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações... enfim... as experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com que seu dia pareça ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo. Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década. Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a... ROTINA.
Não me entenda mal. A rotina é essencial para a vida e otimiza muita coisa, mas a maioria das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de um só capítulo, repetido todos os anos. Felizmente há um antídoto para a aceleração do tempo: M & M ( Mude e Marque). Mude, fazendo algo diferente e marque, fazendo um ritual, uma festa ou registros com fotos. Mude de paisagem, tire férias com a família (sugiro que você tire férias sempre e, preferencialmente, para um lugar quente, um ano, e frio no seguinte) e marque com fotos, cartões postais e cartas. Tenha filhos (eles destroem a rotina) e sempre faça festas de aniversário para eles, e para você (marcando o evento e diferenciando o dia). Use e abuse dos rituais para tornar momentos especiais diferentes de momentos usuais. Faça festas de noivado, casamento, 15 anos, bodas disso ou daquilo, bota-foras, participe do aniversário de formatura de sua turma, visite parentes distantes, entre na universidade com 60 anos, troque a cor do cabelo, deixe a barba, tire a barba, compre enfeites diferentes no Natal, vá a shows, cozinhe uma receita nova, tirada de um livro novo. Escolha roupas diferentes, não pinte a casa da mesma cor, faça diferente. Beije diferente sua paixão e viva com ela momentos diferentes. Vá a mercados diferentes, leia livros diferentes, busque experiências diferentes. Seja diferente. Se você tiver dinheiro, especialmente se já estiver aposentado, vá com seu marido, esposa ou amigos para outras cidades ou países, veja outras culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos..... em outras palavras...... V-I-V-A. Porque se você viver intensamente as diferenças, o tempo vai parecer mais longo. E se tiver a sorte de estar casado(a) com alguém disposto(a) a viver e buscar coisas diferentes, seu livro será muito mais longo, muito mais interessante e muito mais v-i-v-o... do que a maioria dos livros da vida que existem por aí. Cerque-se de amigos. Amigos com gostos diferentes, vindos de lugares diferentes, com religiões diferentes e que gostam de comidas diferentes. Enfim, acho que você já entendeu o recado, não é? Boa sorte em suas experiências para expandir seu tempo, com qualidade, emoção, rituais e vida.

Monday, October 15, 2007

Derretimento da calota ártica

Segue-se mais um artigo (em inglês) publicado recentemente a respeito do derretimento da calota ártica, o qual ilustra de maneira bastante enfática o aquecimento global em curso:
Global warming causing record Arctic ice melt
Updated Wed. Sep. 28 2005 11:36 PM ET
CTV.ca News Staff
A new study is raising more concerns about global warming in the Canadian Arctic and the potentially catastrophic effects on wildlife
This animation shows the annual minimum sea ice extent and concentration for 25 years, from 1979 to 2005. Average climatology from 1979 to 2004 is shown as a yellow outline. (image: NASA/Goddard Space Flight Center)

Federal Environment Minister Stephane Dion responds to media questions (CP / Jacques Boissinot)

Environment Canada climatologist Tom Agnew says 'In 2005, it's the lowest on the record. We've watched that retreat from year after year.'
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According to new data from U.S. scientists, the coverage of sea ice in the Arctic has declined for a fourth consecutive year, indicating an alarming long-term trend.
The amount of sea ice in 2005 up to September -- the month when it typically reaches its minimum -- is anticipated to be the lowest in a century.
"Having four years in a row with such low ice extents has never been seen before in the satellite record. It clearly indicates a downward trend, not just a short-term anomaly," said Walt Meier of the National Snow and Ice Data Center (NSIDC).
Scientists from NSIDC and NASA tracked the ice melt using satellite images.
The data show that on Sept. 21, 2005, the area covered by ice shrank to 5.32 million square kilometres, the lowest recorded since 1978, when satellite records became available.
"In 2005, it's the lowest on the record. We've watched that retreat from year after year," Environment Canada climatologist Tom Agnew told CTV News in Toronto.
Scientists estimate that the current rate of decline in end-of-summer Arctic ice is now approximately eight per cent per decade.
If the current rates of decline continue, the Arctic in the summertime could be completely ice-free well before the end of this century, researchers say.
There is also evidence that the ice is not building back up in the winter, leaving it even more susceptible to warmer summer temperatures.
"We're concerned that it's not going to recover, that the sea ice will eventually disappear within the next fifty to a hundred years," said Agnew.
As well, the springtime melt is beginning much earlier in areas north of Alaska and Siberia. The 2005 melt season occurred about 17 days earlier than the average time.
Combining with these factors are rising Arctic temperatures. Between January and August 2005, the temperature was two to three degrees Celsius warmer than average across most of the Arctic Ocean when compared to the past 50 years.
One area where this warming impact is being felt is the Northwest Passage through the Canadian Arctic.
This summer, the passage, north of the Siberia coast, was completely ice-free between Aug. 15 and Sept. 28. In earlier centuries, many people died trying to navigate the Northwest Passage, battling bitter cold and thick ice.
Dire predictions
Scientists say the most recent estimates suggest that the last time there was an ice-free Arctic was millions of years ago.
Since then, the vast ice fields have always cooled the summer winds that sweep across them on their way south.
But with studies showing increasing hurricane intensity over the past 30 years linked to rising sea temperatures, and recent record heat waves in North America, a growing number of scientists say it's all interconnected.
Inuit living at the ocean's edge in the Arctic are seeing their bays -- once choaked with ice -- are now empty. Waves now lap the shoreline, as the permafrost softens and hunting on ice floes is becoming increasingly difficult, if at all possible.
Polar bears, dependent on the ice pack to reach their prey, are becoming thin, and birds normally confined to spots further south are now at home in the north.
"Now we're seeing the web of life kind of falling apart before our eyes," said Julia Langer of the World Wildlife Fund. "So we see how important the climate ... the stability of climate is to the stability of eco-systems."
It's a threat that's being felt as far away as Parliament Hill in Ottawa, where politicians face a growing body of scientific evidence suggesting that this is not simply nature taking its course.
"Canada must be a leader of climate change," said Environment Minister Stephan Dion. "It's important for us, for our north, for our role in the world."
Dion plans to push the climate agenda at the international climate conference in Montreal beginning Nov. 28.
In the U.S., meanwhile, Inuit hunters who are threatened by the melting of the Arctic plan to file a petition in December. They're accusing the U.S. of violating their human rights by fueling global warming.
President George Bush's administration has opted out of the Kyoto Treaty to reduce greenhouse gas emissions.
With a report by CTV's Todd Battis in Vancouver

Sunday, October 14, 2007

Aquecimento global

Êste artigo foi publicado pelo UOL em 30/01/07. Reproduzo-o aqui para possibilitar sua leitura por quem se interessar, para ilustrar um pouco a atribuição do Prêmio Nobel da Paz de 2007 a Al Gore e à ONU.
30/01/2007 - 11h27

Aquecimento deixará milhões famintos e sem água, diz estudo
Por Rob TaylorReutersEm Canberra (Austrália)
AS PROVÁVEIS CONSEQÜÊNCIAS

Derretimento de geleiras, como ade Vatnajokull, na Islândia, serão apenas uma das conseqüências
Seca: entre 1,1 bilhão e 3,2 bilhões de pessoas sem água
Fome: entre 200 a 600 milhões de pessoas sem alimentos
Inundações: 7 milhões de residências podem ser afetadas
Calor: Aumento médio de temperatura de 2 ou 3 graus Celsius
O aquecimento global fará com que milhões de pessoas passem fome por volta de 2080 e causará grave falta de água na China, na Austrália e em partes da Europa e Estados Unidos, segundo um novo estudo sobre o clima mundial.Até o final do século, as alterações climáticas farão com que a escassez de água afete entre 1,1 e 3,2 bilhões de pessoas, com um aumento médio de temperatura na ordem de 2 a 3 graus Celsius, segundo relatório preliminar do Painel Intergovernamental para a Mudança Climática.O texto deve ser divulgado só em abril, mas o jornal australiano The Age teve acesso a seus dados. O estudo diz ainda que outros 200 a 600 milhões de pessoas enfrentarão falta de alimentos nos 70 anos seguintes, enquanto inundações litorâneas podem tragar outras 7 milhões de casas."A mensagem é que cada região da Terra terá uma exposição [ao aquecimento]", disse Graeme Pearman, um dos responsáveis pelo relatório, na terça-feira à Reuters."Se você olhar para a China, como a Austrália, ambas vão perder precipitações pluviométricas consideráveis em suas áreas agrícolas", disse Pearman, ex-diretor de clima da Organização da Comunidade Científica e de Pesquisa Industrial, principal órgão australiano do setor.
Um encontro de líderes mundiais sobre mudanças climáticas ajudaria a aproveitar o bom momento criado por notícias sobre a alteração de atitude em Washington em relação ao aquecimento global, disse nesta terça-feira um porta-voz do setor ambiental da Organização das Nações Unidas (ONU).
ONU PRESSIONA POR ENCONTRO DE CHEFES-DE-ESTADO
Países pobres, como os da África e Bangladesh, seriam os mais afetados, por serem os menos capazes de lidarem com secas e inundações litorâneas, segundo o especialista.O Painel Intergovernamental foi criado em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial e pelo Programa Ambiental da ONU para orientar as políticas globais sobre o aquecimento.O grupo deve divulgar na sexta-feira em Paris um relatório prevendo que até 2100 a temperatura média do mundo estará de 2 a 4,5C acima dos níveis pré-industriais, sendo que a estimativa mais provável é de 3C.Esse relatório deve resumir a base científica das mudanças climáticas, enquanto o texto de abril detalhará as consequências do aquecimento e as opções para se adaptar a ele.Seca na AustráliaO relatório preliminar contém um capitulo inteiro sobre a Austrália, que vive a pior seca da sua história, alertando que a Grande Barreira de Recifes se tornará "funcionalmente extinta" devido à destruição dos corais.Além disso, a neve deve sumir dos montes no sudeste do país, e o fluxo de água na bacia do rio Murray-Darling, principal área agrícola australiana, deve cair de 10 a 25 por cento até 2050.Na Europa, os glaciais vão desaparecer dos Alpes centrais, enquanto algumas ilhas do Pacífico devem ser muito atingidas pela elevação dos mares e intensificação da freqüência das tempestades tropicais.Num tom mais otimista, Pearman disse que ainda há muito que se pode fazer para lidar com o aquecimento. "As projeções no relatório que sai nesta semana se baseiam na pressuposição de que somos lentos em reagir e que as coisas continuam mais ou menos como no passado", afirmou.Alguns cientistas dizem que a Austrália, o continente mais seco do mundo, sofre uma "acelerada mudança climática" em comparação com outros países.

Messias e "mandrakes"

Luiz A. Góes

De várias décadas para cá, - melhor dizendo, a partir do século passado, - tudo o que se faz em matéria de política, - e nem só de política, - tem sido feito sob a desculpa ou o pretexto de "fortalecer" ou de "preservar" a democracia.

Todos os ditadores sempre se dizem democráticos, todos os golpistas justificam o golpe alegando a intenção ou o propósito de "estabelecer" a democracia, ou de "restabelecer" a democracia, ou de "preservar" a democracia.

Quanta desfaçatez! Todos êles fazem tudo o que fazem apenas para chegar ao poder. Lá chegando, todos querem ser ditadores vitalícios, e passam a fazer de tudo para que isso se confirme na prática, mesmo que tenham sido eleitos em eleições limpas e democráticas, - se é que isso realmente existe, a julgar por tudo o que tem sido publicado a respeito de fraudes eleitorais.

Todos êles tentam, por todos os meios e modos, enfraquecer ao máximo os poderes e prerrogativas dos demais poderes da república, - o legislativo e o judiciário, - e a maximizar os seus próprios poderes. Todos êles tentam por todos os meios e modos silenciar as vozes discordantes, impondo-lhes limitações e "contrôles" de toda sorte, ou criando dispositivos e órgãos que os possam silenciar.

De fato, estão aí as medidas provisórias, usadas de maneira escancarada para imobilizar o Congresso e impor os desejos do "programa" do chefe do executivo; estão aí as várias tentativas de criar "regulamentos" e "contrôles" para calar a imprensa; está aí o uso maciço de verbas de publicidade do govêrno para controlar os meios de comunicação; está aí a recém-criada TV estatal, destinada a doutrinar as pessoas de maneira mais direta e, quem sabe, no futuro criar condições para silenciar os demais canais, como já está acontecendo em país dito "hermano"; está aí o uso de dispositivos maliciosos tipo bolsas de diversos tipos para manter o povo preso a sinecuras e com os olhos fechados para todo o resto; está aí o uso constante e até debochado das chamadas emendas do orçamento da união para comprar os votos dos parlamentares no Congresso; estão aí as nomeações de protegidos dos parlamentares para cargos em órgãos do govêrno com o mesmo objetivo; está aí até mesmo o uso de propinas como o "mensalão" para assegurar essa fidelidade. E isso para mencionar apenas aquilo que se sabe por ter transpirado e saido nos meios de comunicação: pode-se bem imaginar o descalabro que deve ser por trás dos panos, longe dos olhos do público e da imprensa, - quantas ameaças, quantas chantagens, quantas "barganhas", quanto jogo bruto e quanto jogo sujo não deve rolar.

Meios legais ou ilegais, morais ou imorais, pouco importa: a única coisa que realmente importa é que nada atrapalhe os planos de poder e de sua perpetuação nele por parte do governante máximo da nação e seus amigos.

A meu ver isso não é democracia, nada tem a ver com ela: é apenas uma forma (mal) disfarçada de uma ditadura mal ajambrada, mas de qualquer maneira uma ditadura, ou pelo menos de uma ditadura em construção.

Desde que me conheço por gente tenho testemunhado esses episódios, - ao fim e ao cabo sempre de lamentável memória, - em que surge algum "messias" se dizendo o salvador da pátria, o pai dos pobres, o milagroso gênio político que vai fazer com que todos os problemas desapareçam, com que a vida se torne um mar de rosas para todos, e com que o país se torne uma grande potência com um simples estalar de seus dedos, - tal o tamanho de sua "vontade política" capaz de operar milagres ou mágicas como se fosse um "mandrake", - aquele herói fictício das histórias em quadrinhos.

Quando será que vai surgir alguém suficientemente honesto para pelo menos dizer com clareza ao povo que sem que todos os brasileiros trabalhem duro, pratiquem honestidade e lisura em todas as suas atividades e em todos os níveis, dediquem-se a estudar e se aperfeiçoar para exercer suas funções, escolham representantes e governantes competentes, e párem de acreditar em mágicas e em milagres prometidos por messias e "mandrakes", o país não terá nenhum possibilidade de começar a sair do atoleiro em que está metido?

E por quanto tempo o povão ainda terá que sofrer para começar a entender essa verdade?

Mais uma dos portugueses

Luiz A. Góes

Uma vez perguntei a um indu se êle conhecia a origem da expressão "casta", usada para designar as classes sociais da India. Surpreendeu-se quando lhe expliquei que os portugueses, ao lá chegarem no século XV, perguntaram, como faziam em todos os lugares a que chegavam, quem eram os mandatários. Tinha havido, não sei quanto tempo antes, uma invasão da India pelos arianos, que se consideravam, já naquela época, uma raça pura, e que dominaram os indus, mercê de sua civilização mais avançada. Assim, eram os governantes, os mandatários, e se auto-entitulavam "puros", que em português antigo se dizia "castos", a mesma palavra que hoje se refere mais a castidade embora ainda signifique pureza. E assim, chamando os mandatários de "castos", criou-se a palavra "casta" nos idiomas indus.

Há semanas, estando com um bando de chineses, perguntei se êles sabiam a origem da palavra "mandarim", o nome da língua principal da China atualmente. Também se surpreenderam quando lhes expliquei que os portugueses, quando lá chegaram no século XV, perguntaram quem eram os mandatários, porque notaram que havia uma infinidade de línguas e era difícil lidar com aquele emaranhado. Os mandatários, a classe dominante, naquele tempo eram denominados "mandarins" pelos porgueses, - a palavra mandarim ainda existe, evidentemente, com significado semelhante, - e assim "mandarim" passou a designar a língua falada pelos mandatários chineses.

Agora fiquei sabendo de mais uma: que a palavra japonesa "arigatô", é corruptela de "obrigado", também introduzida no Japão pelos portugueses no século XV.

O mais surpreendente de tudo é que aparentemente quase ninguém na India, na China, no Japão, ou em Portugal, saiba dessas coisas.