Observador Isento (Unbiased Observer)

A space for rational, civilized, non-dogmatic discussion of all important subjects of the moment. - Um espaço para discussão racional, civilizada, não dogmática de todos os assuntos importantes do momento.

Wednesday, April 22, 2009

Dia 13, sexta-feira - complementação

Luiz A. Góes

Um dos meus raros leitores reclamou que sugeri o prazo de 8 anos para o desenlace depois da sexta-feira 13 apontada como eventual solução para o problema tupiniquim. Nada disso.
Em realidade, Filipe o Belo precisou de todo aquele tempo de 7 anos porque queria extrair de Jacques de Molnay e seus companheiros a informação mais preciosa que buscava, ou seja, o "mapa da mina" do tesouro dos Templários, que jamais foi encontrado.
Isso porque depois de aprisionar os Templários e confiscar seus bens, Filipe o Belo ficou desapontado com o volume de dinheiro que conseguiu obter, ridiculamente pequeno face ao que se sabia ou se propalava que os Templários possuiam.
Não fosse isso, a mesma acusação de heresia e coisas semelhantes lançada contra êles os teria levado à fogueira imediatamente, sem qualquer pêrda de tempo.
Mas aparentemente nem todos os Templários foram capturados, e os que escaparam devem ter ficado com o ouro. Consta vagamente que teriam se dirigido à Escócia, e lá se reorganizado em uma sociedade secreta da qual teria se derivado a atual Maçonaria e talvez mais algumas outras, todas do tipo secreto ou semi-secreto.
Assim, depois de torturar repetidamente os Templários capturados por 7 anos, Filipe o Belo acabou desistindo e mandou queimá-los.
A julgar pelo que aconteceu depois da maldição lançada por Jacques de Molnay, tem-se que concluir que êle tinha tremenda fôrça, muito embora talvez nunca se venha a saber qual a real natureza dessa fôrça.
De fato, Filipe o Belo continuou a ser perseguido por aquela maldição muito tempo depois de morrer (menos de um ano depois da morte de Jacques de Molnay, como êste previu): além de tudo o que se passou com seus sucessores e descendentes, ao morrer em 1315 o coração de Filipe o Belo foi retirado e transportado para o Mosteiro de Poissy, juntamente com a cruz dos Templários, que por alguma razão tinha guardado, e lá permaneceu até 1695, quando um ráio caiu sôbre a igreja do mosteiro e a incendiou destruindo-a quase completamente, assim destruindo a cruz e o coração do rei. Mais tarde, em 1793, durante a revolução francesa, a sepultura de Filipe o Belo na basílica de Saint-Denis foi profanada, de modo que a maldição do Templário alcançou até mesmo os restos mortais do Rei de Ferro, embora séculos mais tarde.
É claro que não desejo e nem sugiro que leve 8 anos depois de uma sexta-feira 13 para que os problemas tupiniquins sejam resolvidos, não desejo e nem sugiro que seja torturado quem quer que seja por um minuto sequer, e nem desejo ou espero que seja lançada qualquer maldição a quem quer que seja. No máximo espero que párem de atrapalhar as vidas dos brasileiros.

Tuesday, April 21, 2009

Dia 13, sexta-feira

Luiz A. Góes

Filipe o Belo, o rei Filipe IV da França, era o que se podia chamar de um sujeito de sorte. Tudo lhe dava certo. Até o apelido que o marcou, porque era considerado um indivíduo extremamente bonito.
Era o segundo filho de Filipe III, mas se tornou herdeiro do trono porque seu irmïo mais velho morreu com 12 anos de idade. Escapou com vida quando, em 1285, o rei de Aragão, Pedro III, arrasou o exército francês mas poupou a família real, e assumiu o trono logo em seguida, devido à morte de seu pai, com apenas 17 anos de idade.
Criou uma organização burocrática eficiente que colocou a França no caminho da modernidade, acumulou o título de rei de Navarra por fôrça de seu casamento aos 16 anos com Joana I de Navarra, e com a morte desta anexou definitivamente a seus domínios territórios pertencentes à herança da esposa. Acrescentou a seus domínios, além disso, diversos outros territórios, mediante conquistas, permutas, ou aquisições em dinheiro, ampliando enormemente seu domínio e influência.
Filipe o Belo envolveu-se em numerosos conflitos, dentre os quais uma espécie de aliança com o Império Mongol contra os muçulmanos visando reconquistar a Terra Santa, - o que depois de várias reviravoltas foi abandonado, - e promoveu uma guerra contra a Inglaterra, esta também em busca de mais territórios na época, tendo ao final ficado com alguns territórios, devolvido outros e acabado resolvendo o conflito por meio do casamento de sua irmã mais nova com o rei da Inglaterra. Além de outros conflitos que lhe renderam mais territórios ou concessões comerciais importantes. Além da alcunha que já ostentava, Felipe o Belo ficou também conhecido como o Rei de Ferro pelas numerosas guerras em que se envolveu e venceu.
Mas o mais importante de todos os conflitos foi o que Filipe o Belo teve com o papado. Os territórios da Igreja eram, na época, extremamente importantes, e sua influência em toda a Europa era considerável.
Precisando de dinheiro para financiar suas guerras, Filipe o Belo começou por perseguir os judeus e confiscar os seus bens, expulsando-os do território francês, e em seguida confiscou os bens de banqueiros da Lombardia, no norte da atual Itália, bem como de numerosos abades, membros da Igreja que detinham recursos que emprestavam aos governantes. Além disso, criou impostos sôbre o clero, e com isso entrou definitivamente em conflito com o Papa Bonifácio VIII, o qual, entretanto, devido a outros problemas que enfrentava, acabou por ceder. Mas esse conflito não cessou aí, e representantes de Filipe o Belo acabaram por atacar fisicamente o Papa em um encontro diplomático, em consequência do qual veio a falacer um mês depois. Seu sucessor foi Bento XI, o qual morreu misteriosamente em pouco tempo, - dizem que foi envenenado. E com isso subiu ao trono papal Clemente V, de origem francesa, o qual concordou em transferir o papado de Roma para Avinhão, na França, passando assim a ficar sob integral influência de Filipe o Belo.
Com isso, a antiga proteção que o papado emprestava à Ordem dos Templários, remanescente das Cruzadas e formada por monges guerreiros, perdeu fôrça. Os Templários tinham se especializado em proteger a Terra Santa e também os peregrinos europeus que a visitavam, tendo acumulado grande riqueza em suas atividades nas Cruzadas e depois como banqueiros, tendo sido êles os inventores de transferência de valores sem que o dinheiro, na época geralmente em ouro, tivesse que ser transportado, eliminando assim um dos maióres riscos que as transações financeiras corriam na época, devido aos assaltantes, fossem êles bandidos ou governantes hostís: um depósito de dinheiro com os Templários na Europa (particularmente na França) era honrado na Terra Santa com a entrega de quantia correspondente ao destinatário por outros Templários que lá se encontravam, ou vice-versa, mediante o pagamento de uma taxa.
Derrotados na Terra Santa, os Templários continuaram com suas atividades na Europa, particularmente as atividades bancárias, tendo se tornado financiadores dos principais governantes europeus da época, uma vez que tinham amealhado considerável fortuna.
Filipe o Belo, prosseguindo em sua busca por recursos, obteve do Papa Clemente V concordância para extinguir a Ordem dos Templários, e no dia 13 de outubro de 1307 o grão mestre da Ordem, Jacques de Molnay, e grande número de seus integrantes, foi preso, ao mesmo tempo que todos os seus bens foram confiscados.
Filipe o Belo procedeu em seguida a julgamentos desses prisioneiros, tendo submetido todos a torturas, e finalizando por condená-los à morte na fogueira. Jacques de Molnay foi executado cêrca de sete anos depois de sua prisão, e de dentro das chamas amaldiçoou o rei Filipe IV e sua descendência até a décima geração, bem como o papa Clemente V e o ministro Guilherme de Nogaret, - êste último tendo sido o que esbofeteou o Papa Bonifácio VIII com a mão enluvada com a luva de sua armadura de ferro, - afirmando que êles seriam convocados perante o tribunal de Deus no prazo de um ano, e que os descendentes de Filipe o Belo teriam mortes violentas.

De fato, todos os três citados morreram em menos de um ano, e se sucederam 13 ou 14 monarcas, descendentes de Filipe o Belo, que morreram prematuramente em prazo relativamente curto, vários dos quais assassinados ou com mortes de alguma forma violenta, a ponto de extinguir-se a dinastia a que pertenciam. O próprio Felipe o Belo sofreu uma "apoplexia" (um derrame) cerebral que o inutizou de uma hora para outra. Seus três filhos subiram ao trono um após o outro e foram morrendo também em prazos bastante curtos. Chegou ao ponto de um recém-nascido ser proclamado rei, igualmente morrendo logo em seguida.
O dia 13 de outubro de 1307 era uma sexta-feira. A derrocada de Felipe o Belo, começou naquela sexta-feira 13, e a partir de então surgiu a idéia, que persiste até hoje, de que as sextas-ferias 13 são dias de mau agouro.
Estamos no momento assistindo a um fenômeno mais ou menos parecido com o caso de Felipe o Belo, quando um improvável sindicalista cuja biografia é marcada por tremenda sorte se tornou o mandatário máximo, detendo apôio popular sem precedentes e escapando de todos os escândalos que em condições normais já teriam derrubado qualquer governante, por mais forte e popular que fosse, em qualquer país do mundo. E esse improvável mandatário monta dispositivos destinados a perpetuar no poder a quem êle escolher, estabelecendo assim, à maneira tupiniquim, uma dinastia de governantes pouco prováveis mas que encontram pouca ou nenhuma resistência ou oposição a seus reprováveis métodos, à sua incompetência flagrante e à sua indisfarçável corrupção.
Quem sabe isso venha a acabar numa sexta-feira 13 com um grito de revolta de algum grão mestre corajoso…

Saturday, April 18, 2009

O Taj Mahal tupiniquim

Luiz A. Góes

Em tempos idos, um governante da India construiu o Taj Mahal, ainda hoje considerado um dos edifícios mais belos e notáveis de todos os tempos. O Taj Mahal já sofreu, ao longo dos séculos, muitas pêrdas, porque era decorado com valiosíssimos materiais, pedras preciosas e quetais, em grande parte roubados depois da morte de seu construtor, ou usados por seus sucessores para pagar as dívidas que deixou. Nenhuma economia foi feita em sua construção, e seu custo ultrapassou de longe as possibilidades da economia do país.
Consta que o Taj Mahal foi construído para ser o túmulo da amada de seu construtor, o qual pretendia construir, em frente a êle, uma réplica do mesmo em granito negro, - o Taj Mahal é todo revestido de mármore branco, - para vir a ser o seu próprio túmulo quando morresse.
Os dois Taj Mahals, o branco e o negro, ficariam de frente um para o outro, como que se admirando mutuamente.
Para sorte da India, o construtor morreu antes de construir o Taj Mahal negro, porque então a India já estava totalmente falida, sua economia irremediavelmente quebrada pelo desatino dos gastos com a construção do Taj Mahal branco, e seguramente acabaria se esfacelando definitivamente se o Taj Mahal negro chegasse a ser erguido.
Proclama-se que a motivação do construtor do Taj Mahal foi o amor: queria para sua amada o mais notável túmulo de todos os tempos, nada menos do que isso. Mas o que conseguiu, em realidade, foi enterrar nesse túmulo a sua pátria, condenando-a a séculos de miséria e sofrimento para se recuperar.
Em plagas do Novo Mundo encontra-se em construção o Taj Mahal tupiniquim: é a "estrutura" sôbre a qual o governante de plantão pretende assentar a extensão permanente de seu reinado, que considera o melhor de todos os tempos. O motivador também é o amor, mas o amor pelo poder, não por uma mulher, - pelo menos tanto quanto se sabe.
Essa "estrutura" é como a roupa nova do rei, daquela estória bastante conhecida, em que os costureiros pediam mais dinheiro, e mais dinheiro, e mais dinheiro, porque estavam produzindo uma roupa que seria para sempre insuperável e que o rei, não a vendo quando a "experimentava", ia sendo convencido de que ela era de fato insuperável porque os costureiros diziam que só podia ser vista por pessoas "superiores", pessoas "iniciadas" nos segredos daquela alta costura que praticavam.
No dia em que finalmente a tal roupa ficou "pronta", o rei a "vestiu" e saiu pelas ruas para que fosse devidamente admirado. A essa altura toda a população não ouvia falar de outra coisa a não ser na tal roupa nova do rei, que estava sendo custeada com o chorado dinheiro dos impostos que pagava. E como ninguém queria ficar por baixo e ser taxado de "inferior", todos aplaudiam e elogiavam a tal roupa nova insuperável.
Até que um garoto, que para conseguir ver tinha trepado em uma árvore, em sua pureza e inocência gritou lá de cima, alto e bom som: "O rei está nuzinho em pelo!"
A estória não diz se o tal rei quebrou sua pátria com a produção da tal "roupa", mas se pode imaginar que se o rei inventasse de mandar fazer mais algumas "roupas" como aquela, seguramente quebraria.
A "estrutura" ora em construção em plagas tupiniquins tem todas as características das duas histórias (ou melhor: da primeira história e da segunda estória), porque essa "estrutura" está quebrando o país: nenhuma economia é feita em sua construção, que consome todos os recursos existentes e compromete o futuro com a acumulação de déficits orçamentários e aumento da dívida pública além de todos os limites imagináveis. Além disso, só se fala nela o tempo todo, a ponto de a população pensar que ela é real, mesmo só sendo vista pelos "iniciados", devidamente equipados com uma carga ideológica que os faz verem apenas o que seus líderes dizem para verem, ainda que seja ver branco em lugar de preto, eficiência em lugar de incompetência, honestidade em lugar de corrupção generalizada.
Essa "estrutura" está sendo construída para abrigar a eleita pelo imperador de plantão para sucedê-lo, enquanto o povão extasiado se delicia com uma "bolsa-esmola" que lhe permite sobreviver sem precisar trabalhar, bastando que votem nos "candidatos certos", - os apontados pelo grande chefão, - na próxima eleição, e se contentem com suas "felizes" vidas de miseráveis.
Mas, para os que ainda conseguem ver alguma coisa de concreto com seus próprios olhos, sem obedecer a ditames de qualquer ideologia, essa "estrutura", esse Taj Mahal tupiniquim, guarda uma tremenda diferença em relação ao Taj Mahal da India: enquanto êste é um edifício de pedras que resiste ao tempo e continuará a ser visto e admirado por todos os que o visitarem, independentemente de suas ideologias ou "iniciações", a "estrutura" em construção para ser o Taj Mahal tupiniquim é um castelo de cartas que ruirá assim que algum vento mais forte o sopre, além de não poder ser vista por todos, e sim apenas pelos tais "iniciados". Ruindo, levará para o buraco os recursos que estão sendo dispendidos em sua "construção". E com o tempo os "iniciados" que ora a vêm, seja por conveniência, interêsse, ideologia, ignorância ou cegueira mesmo, também morrerão.
E tudo o que sobrará será a ruina da pátria que terá pago o seu custo e precisará lutar por muitos anos para sair do buraco em que terá sido deixada..

Thursday, April 09, 2009

Spread bancário - tentativa de explicação "mastigada"

Luiz A. Góes

Encontra-se em discussão acalorada a questão dos chamados "spreads" bancários. Em inglês, "spread" significa espalhar, que pode ser entendido também como distribuir, e como aumentar.
No caso é êste último significado que se aplica: "spread bancário" significa o valor que os bancos somam à taxa de juros mínima determinada pelo Banco Central, a Selic, para estabelecer as taxas mediante as quais efetuam empréstimos ao público.
Enquanto a taxa Selic é da órdem de 12% ao ano, os bancos cobram de seus clientes 68% ou mais ao ano, ou seja, há um "spread" da órdem de 56% ao ano.
Os políticos insurgem-se constantemente contra esses "abusos", em suas tiradas visivelmente populistas, e o primeiro mandatário diz ser sua obsessão reduzir o "spread" bancário.
Mas a questão precisa ser bem compreendida pelo grande público para que possa avaliar adequadamente o problema. Embora chovendo no molhado para muita gente que sabe de sobra como se calculam os tais "spreads", segue-se uma explicação bastante simplificada, objetivando ajudar nesse entendimento.
Há duas condições que determinam o piso, o valor mínimo, dos juros que os bancos comerciais precisam cobrar de seus clientes, a saber:
a) a taxa Selic, ou seja, a taxa mínima para transações inter-bancos estipulada pelo Banco Central;
b) o recolhimento compulsório, ou seja, o porcentual dos depósitos captados que os bancos precisam recolher ao Banco Central, estipulado pelo próprio Banco Central visando controlar a inflação e outras políticas.
A coisa funciona mais ou menos assim:
a) os bancos precisam, para captar recursos, pagar aos aplicadores taxas compatíveis com a taxa Selic: embora ela não seja a única determinante nas decisões dos aplicadores, tem uma grande influência, de modo que se deve esperar que os bancos paguem aos aplicadores taxas da mesma ordem ou pouco superiores à taxa Selic;
b) o recolhimento compulsório tem as seguintes consequências, que se entrelaçam, a saber:
- o porcentual do recolhimento reduz muito o volume de dinheiro que pode emprestar a seus clientes: se o recolhimento compulsório é de 70% (como tem sido), por exemplo, o banco fica apenas com 30% do que captou para emprestar a seus clientes;
- como o banco tem que pagar juros sôbre todo o montante que captou, e não apenas sôbre o que pode emprestar aos clientes, precisa fazer com que o volume de dinheiro que pode emprestar remunere todo o montante que captou;
c) vamos supor que um banco capte 100 reais a 12% ao ano, e que o Banco Central exija um recolhimento compusório de 70% (mais ou menos as condições que vêm se verificando na prática). Temos:
- o banco tem que pagar como juros aos aplicadores 12% de 100 reais, ou seja, 12 reais;
- o banco tem que recolher ao Banco Central 70% do que captou, ou seja, 70 reais, ficando com apenas 30 reais para emprestar a seus clientes;
- esses 30 reais precisam gerar para o banco uma renda que lhe permita cobrir a despeza que teve para captar os 100 reais, ou seja, precisa gerar uma receita, sem considerar os custos operacionais do banco, de no mínimo 12 reais;
- assim sendo, o mínimo que o banco precisa cobrar como juros sôbre os 30 reais é 12 reais, ou seja, (12/30)x100 = 40%;
- até aí o banco nada ganhou: a esses 25% o banco acrescenta um porcentual correspondente aos seus custos operacionais, mais a sua margem de lucro, e mais eventuais variáveis relacionados com o nível de risco que o cliente representa, mesmo porque nem todos os clientes acabam pagando o empréstimo que tomaram ao banco.
Considerando esse patamar mínimo de 40%, a taxa de 68% passa a não parecer tão absurda assim, embora seja, sem qualquer dúvida, extremamente elevada: o "spread" real coresponde a 28%. É possível que os bancos possam reduzir um pouco suas taxas, reduzindo assim o chamado "spread bancário", mas não se pode esperar que o total cáia tanto quanto muita gente pensa que poderia cair, por comparação com o que ocorre em outros países.
Apenas para se ter uma idéia, suponhamos que em lugar de a taxa Selic estar em tôrno de 12%, ela estivesse em tôrno de 2%, como acontece em numerosos países no momento. Então, a remuneração mínima necessária daqueles 30 reais que o banco teria para emprestar, depois de efetuar o recolhimento compulsório de 70 reais ao Banco Central, seria de 2 reais, ou (2/30)x100 = 6,67%.
A diferença é, evidentemente, astronômica: enquanto a taxa Selic decresceria 10%, o juro mínimo necessário para o banco comercial decresceria 33,33%. E isso se o recolhimento compulsório fosse de 70%: se o recolhimento compulsório fosse menor, a queda dos juros para empréstimos ao público seria ainda maiór.
Dentro do quadro vigente da taxa Selic e do recolhimento compulsório, qualquer banco que pratique taxas abaixo dos níveis necessários para assegurar a cobertura de seus custos e riscos vai inevitavelmente acabar falindo, de modo que, apesar da "vontade política" do governante de plantão, não se pode esperar grande coisa enquanto o Banco Central não alterar significativamente a taxa Selic e o porcentual do depósito compulsório.
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O Professor Ricardo Bergamini tem dado, em sua página, essa explicação, que tentei "mastigar" um pouco mais acima para facilitar a compreensão. Êle também explica o mecanismo do recolhimento compulsório, de maneira bastante didática, como segue:"Quando uma pessoa deposita certa quantia de dinheiro num banco comercial, esta quantia fica disponível para que o banco a empreste a outro cliente. Este cliente, por sua vez, não gasta imediatamente todo o dinheiro tomado como empréstimo, mas deposita o valor tomado em um segundo banco. Neste ponto temos uma multiplicação da moeda, já que o primeiro depositante tem a totalidade de seu dinheiro disponível em moeda escritural (pode emitir um cheque nesse valor, ou fazer compras com cartão de débito, por exemplo) e o segundo depositante também tem a mesma quantidade disponível. Entretanto, a quantidade de moeda 'real' é apenas a quantidade que foi depositada pelo primeiro depositante."
É claro que esse mecanismo, se repetido indefinidamente, geraria uma quantidade de moeda escritural, ou meios de pagamento, muito maiór do que o valor depositado pela primeira pessoa em sua conta, e essa multiplicação do volume dos meios de pagamento em mãos do público representa um convite para que as pessoas facilitem quanto aos preços, dispondo-se a pagar cada vez mais pelos bens e serviços que precisam comprar, gerando assim um processo inflacionário.
Assim, o Banco Central "enxuga" o volume de meios de pagamento em mãos do público por meio do recolhimento compulsório para controlar a inflação. Como diz o Professor Bergamini, "O principal objetivo do depósito compulsório é evitar a multiplicação descontrolada da moeda escritural."
E por meio da taxa de juros, o Banco Central procura tornar mais ou menos atraente para as pessoas tomarem empréstimos junto aos bancos a fim de adquirirem os bens e serviços de que necessitam, funcionando as duas coisas juntas para controlar a inflação e provocar o "aquecimento" ou o "esfriamento" da economia em cada momento, conforme o caso.

Sunday, April 05, 2009

Teoria da perversidade do universo

Luiz A. Góes

Um das "leis" de que mais se fala ultimamente, ou seja, desde que os meios de comunicação começaram a difundí-la, é a chamada Lei de Murphy.
Segundo essa "lei", qualquer evento que tenha alguma probabilidade não nula de acontecer, acabará acontecendo. O que não se sabe é apenas quanto tempo levará para acontecer.
Por exemplo: a probabilidade de dois veículos se chocarem num cruzamento pelo qual passam veículos nas duas vias que se cruzam, mesmo que exista um sinaleiro, é não nula: acabará acontecendo uma trombada naquele cruzamento, sendo apenas uma questão de tempo para que aconteça. Os sinaleiros foram inventados justamente para reduzir o número, ou a frequência, desses acontecimentos, evitando que a maioria deles tenha lugar.
Na engenharia a Lei de Murphy é amplamente usada, embora sem que seja mencionada, através dos chamados "coeficientes de segurança". Quando se determina, por exemplo, a espessura que uma viga precisa ser para suportar determinada carga, o que se faz é determinar a espessura mínima necessária tendo em conta o limite de ruptura do material de que a viga será feita, sendo o limite de ruptura uma grandeza cujo valor é determinado com rigor em testes laboratoriais. Uma vez determinado esse valor mínimo, multiplica-se-o pelo "coeficiente de segurança" recomendado, seja pela experiência, por códigos de construções, por requisitos legais ou por outros dispositivos do gênero. E o valor do "coeficiente de segurança" é geralmente superior a 2, podendo ser 3, 4, 5 ou até maiór, conforme o caso, porque as imperfeições no material ou na fabricação da viga podem contribuir para reduzir a sua capacidade de suportar a carga, seja no curto ou no longo prazo.
Isso porque os materiais, - todos os materiais, - costumam apresentar defeitos, além de um fenômeno chamado de "fadiga", mais frequente no caso dos metais, que consiste em irem enfraquecendo ao longo do tempo quando submetidos a esforços intermitentes. Não é por outra razão que os cabos de aço usados em guindastes, por exemplo, apesar de serem calculados com coeficientes de segurança extremamente elevados, precisam ser simplesmente substituidos por novos depois de um certo número de horas de trabalho levantando cargas.
A Lei de Murphy não se refere apenas a eventos danosos com probabilidade não nula de acontecerem: ela também se aplica a eventos benéficos, embora isso precise ser interpretado de maneira adequada para evitar que se tornem danosos também.
Por exemplo: a probabilidade de um apostador ganhar numa loteria é não nula, embora seja geralmente baixa. Se êle permanecer apostando naquela loteria repetidamente, algum dia ganhará.
Mas é preciso interpretar isso corretamente: a grande maioria dos apostadores acaba morrendo antes de ganhar, deixando a "vez" para outros apostadores que continuarão a apostar em seu lugar, a maioria dos quais, por sua vez, também acabará morrendo antes de ganhar. É nisso que se baseia, em parte, a lucratividade dos cassinos: a maioria dos apostadores só pode apostar por algum tempo, ou um certo número de vezes, e acaba abandonando o cassino sem ganhar, enquanto que o cassino permanece apostando contra seus clientes indefinidamente.
A lucratividade dos cassinos também se apóia na superioridade de seus crupiês quanto ao conhecimento das manhas do jogo, além do fato de que nenhum apostador pode ganhar, a longo prazo, se apostar contra uma banca que tenha capacidade financeira ilimitada: a banca sempre pode continuar apostando por mais tempo do que o apostador, e fatalmente acabará ganhando a longo prazo. Quer dizer: se você ganhou numa mesa de jogo, cáia fora porque daí por diante só perderá.
A Lei de Murphy, de tanto ser discutida, acabou por constituir uma verdadeira teoria, com axiomas e colorários, tendo gerado, além disso, muitas teorias derivadas, além de ser usada com extrema frequência em numerosas disciplinas, como em economia, em cálculo atuarial, etc. E tem servido para gerar numerosas estórias ou histórias de tipo jocoso ou cômico.
Mas é quanto aos acontecimentos danosos que a Lei de Murphy se tornou mais conhecida e importante, evidentemente, porque se trata de acontecimentos a serem evitados tanto quanto possível, muito embora não tenham escapado a alguns os aspectos de jocosidade ou comicidade que muitos desses eventos podem conter.
Isso gerou, reunindo esses aspectos cômicos ou jocosos, o que alguém, cujo nome não me ocorre, certa vez apresentou como a "Teoria da perversidade do universo", cujo fundamento principal seria que quando dois ou mais eventos têm igual probabilidade de ocorrer, o que pode causar maiór dano ocorrerá primeiro.
Daí se derivam as afirmações, ou axiomas, dessa curiosa "Teoria da perversidade do universo", de que me lembro de alguns, a saber:
1) se tudo parece estar na mais perfeita órdem ao final de um trabalho, isso quer dizer que você não verificou tão cuidadosamente quando devia;
2) quando o seu trabalho cuidadosamente verificado e corrigido for apresentado a alguém, esse alguém, ou algum abelhudo, vai imediatamente encontrar algum êrro, nem que seja mero êrro de datilografia;
3) a fatia de pão com manteiga cái no chão sempre com a manteiga para baixo;
4) o policial do trânsito pede os documentos do carro e os seus sempre quando você os esqueceu em casa;
5) a gasolina do tanque acaba sempre quando você está com aquela tremenda pressa para chegar ao local de uma importante reunião;
6) o que acaba acontecendo é sempre aquilo que a gente não espera;
7) se você fez minuciosa e judiciosamente o orçamento da reforma da casa, pode multiplicar o custo final por dois pelo menos;
8) quando você procura uma coisa, sempre acha aquela outra coisa que não estava procurando;
9) quando você está com algum problema, sempre aparecem também outros problemas que nunca poderiam aparecer juntos;
10) você sempre fica "apertado para lavar as mãos" quando está no meio de um espetáculo ou filme no cinema, ou quando não existe nenhum banheiro por perto;
11) um acidente automobilístico sempre ocorre no dia seguinte ao vencimento do seguro que você se esqueceu de pagar; ...
e por aí vai: não é difícil ampliar quase indefinidamente essa lista.
Alguém teve, seguramente sem saber da existência dessa "Teoria da perversidade do universo", a idéia de reunir uma série de conceitos sob o título de "Lei de Murphy segmentada", que tenho recebido ultimamente com certa frequência pela Internet. Essa "Lei de Murphy segmentada" é mais ou menos assim:
LEI DE MURPHY "SEGMENTADA"
1- GUIA PRÁTICO DA CIÊNCIA MODERNA:
1. Se mexer, pertence à Biologia.
2. Se feder, pertence à Química.
3. Se não funciona, pertence à Física.
4. Se ninguém entende, é Matemática.
5. Se não faz sentido, é Economia ou Psicologia.
6. Se mexer, feder, não funcionar, ninguém entender e não fizer sentido, é Informática.
2- LEI DA PROCURA INDIRETA:
1. O modo mais rápido de se encontrar uma coisa é procurar outra.
2. Você sempre encontra aquilo que não está procurando.
3- LEI DA TELEFONIA:
1. Quando lhe ligam: se você tem caneta, não tem papel. Se tiver papel, não tem caneta. Se tiver ambos, ninguém liga.
2. Quando você liga para números errados de telefone, eles nunca estão ocupados.
Parágrafo único: Todo corpo mergulhado numa banheira ou debaixo do chuveiro faz tocar o telefone.
4- LEI DAS UNIDADES DE MEDIDA:
Se estiver escrito 'Tamanho Único', é porque não serve em ninguém, muito menos em você....
5- LEI DA GRAVIDADE:
Se você consegue manter a cabeça enquanto à sua volta todos estão perdendo,provavelmente você não está capacitado para entender a gravidade da situação.
6- LEI DOS CURSOS, PROVAS E AFINS:
80% da prova final será baseada na única aula a que você não compareceu, baseada no único livro que você não leu.
7- LEI DA QUEDA LIVRE:
1. Qualquer esforço para se agarrar um objeto em queda, provoca mais destruição do que se o deixássemos cair naturalmente.
2. A probabilidade de o pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é proporcional ao valor do carpete.
8- LEI DAS FILAS E DOS ENGARRAFAMENTOS:
A fila do lado sempre anda mais rápido.
Parágrafo único: Não adianta mudar de fila. A outra é sempre mais rápida.
9- LEI DA RELATIVIDADE DOCUMENTADA:
Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do manual.
10- LEI DO ESPARADRAPO:
Existem dois tipos de esparadrapo: o que não gruda e o que não sai.
11- LEI DA VIDA:
1. Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.
2. Tudo que é bom na vida é ilegal, imoral, engorda ou engravida.
12- LEI DA ATRAÇÃO DE PARTÍCULAS:
Toda partícula que voa sempre encontra um olho aberto
.13- COISAS QUE NATURALMENTE SE ATRAEM:
Nariz e dedo
Mãos e seios
Pobre e funk
Olhos e trazeiro
Mulher e vitrines
Homem e cerveja
Carro de bêbado e poste
Tampa de caneta e orelha
Jato de urina e tampa de vaso
Leite fervendo e fogão limpinho
Político e dinheiro público
Dedinho do pé e ponta de móveis
Camisa branca e molho de tomate
Tampa de creme dental e ralo de pia
Café preto e toalha branca na mesa
Dor de barriga e final de rolo de papel higiênico
Bebedeira e mulher feia
Mau humor e segunda-feira!

Bem!!!… Nem tudo o que incluiram nessa tal de "Lei de Murphy segmentada" se refere à Lei de Murphy, mas o conjunto ficou engraçado.