Observador Isento (Unbiased Observer)

A space for rational, civilized, non-dogmatic discussion of all important subjects of the moment. - Um espaço para discussão racional, civilizada, não dogmática de todos os assuntos importantes do momento.

Monday, March 14, 2011

Fugindo do carnaval

Luiz A. Góes
Passamos os dias de carnaval numa espécie de chácara no interior do Estado, a convite de parente que é co-proprietário daquele "recanto".
Foram dias agradáveis, sem qualquer dúvida, inclusive porque os nossos hospedeiros, cheios de juventude e saúde, agitam as coisas o dia inteiro: constróem, reformam, inventam passeios, organizam churrascos, - sempre regados de boa cerveja, caipirinhas, etc, - recebem visitas, visitam os demais co-proprietários, fazem "peregrinações" ao comércio da região (principalmente as mulheres), e até sáem para comprar jornal, coisa que não estamos mais acostumados a ver ou fazer.
Tem-se algum acesso à Internet, mas pouco, e se vê televisão, mas a maioria fica, depois do jantar, batendo papo, jogando conversa fora, comentando as notícias, - particularmente, pela coincidência, o terremoto do Japão, - e lá pelas dez e meia da noite todos já começam a se recolher, até mesmo devido à necessidade de por na cama a numerosa criançada.
Numa dessas noites, a maioria já estava na cama para dormir, por volta das onze e meia, quando ouvimos uns estouros e silvos. Pensei em fogos de artifício, mas logo me lembrei que no carnaval esses fogos são pouco usados, e devido à persistência chegamos logo à conclusão de que se tratava de um tiroteio.
Ia me levantando para verificar, mas logo mudei de idéia e ficamos deitados: se fosse realmente um tiroteio, eu podia, sem querer, acabar me metendo na trajetória de alguma bala perdida, e assim resolvi ficar deitado. Fiquei à escuta e não me pareceu que alguém mais na casa tivesse se levantado, de modo que depois de algum tempo, restabelecido o silêncio, finalmente dormimos.
No dia seguinte, com algumas exceções (o pessoal de sono mais pesado, e alguns com problemas auditivos), não se falava de outra coisa. Tinha sido programado um churrasco coletivo, de modo que quase todos os co-proprietários se reuniram a partir do meio da manhã, para arrumar as coisas, preparar a comida, a bebida, e principalmente conversar, contar histórias e estórias, e dar boas risadas.
O pessoal de uma das casas disse que, como estava fazendo calor, tinham ficado fora da casa até mais tarde. De repente começaram a ouvir os estouros e os silvos das balas, e correram para dentro alarmados.
Um dos presentes disse que tinha ido, logo cedo, até um pequeno supermercado situado a pequena distância, o qual costuma ficar aberto à noite, e lá ficou sabendo que tinha havido um assalto, que o segurança do supermercado enfrentou os bandidos a bala e matou um deles. Minutos depois chegou a polícia, que deu caça aos bandidos que se evadiam, prolongando o tiroteio. Alguém comentou que aquele supermercado costuma ser assaltado porque é o único que fica aberto até tarde da noite: os bandidos esperam pela hora de fechar, para que se acumule mais dinheiro na caixa, e só então assaltam. Parece que alguém teria avisado por telefone, um par de horas antes, que haveria o assalto, o que teria contribuido para a eficiente reação do segurança, e para a rápida vinda da polícia, muito embora a coisa tenha ficado um tanto inexplicada.
Nas noites seguintes não aconteceu mais nada do gênero, e o pessoal começou a reclamar que tudo tinha ficado monótono demais, de modo que começaram a deixar o local, retornando às suas residências em São Paulo ou outras cidades.
De nossa parte, falando francamente, não esperávamos nem de longe passar um carnaval tão emocionante.