Observador Isento (Unbiased Observer)

A space for rational, civilized, non-dogmatic discussion of all important subjects of the moment. - Um espaço para discussão racional, civilizada, não dogmática de todos os assuntos importantes do momento.

Friday, January 27, 2012

Olhai para as torres gêmeas

Luiz A. Góes

O "acidente" com os prédios que desabaram no Rio parece ter uma explicação fácil demais: foi devido a uma obra clandestina no prédio de 20 andares.

Isso acontece com frequência, gerando "acidentes" considerados "menores" com os quais as autoridades não se preocupam, mas que somados representam muita coisa. A causa real está, aliás, na ganância de síndicos e sub-síndicos de prédios, que aumentam seus patrimônios realizando nos respectivos condomínios obras não autorizadas pelos condôminos, - e muito menos a êles explicadas, - em que fazem "parcerias" com os construtores que contratam para executá-las.
As torres gêmeas de New York desabaram, - "panquecaram", no dizer de um analista que examinou o assunto na época, - porque, como todos os demais prédios daquela cidade, e talvez do mundo, não foram projetadas para resistir a cargas dinâminas daquela magnitude.
De fato, há uma diferença enorme entre sustentar sôbre colunas o peso de um ou mais andares superiores estaticamente, e receber o impacto desse peso caindo de uma altura de 3 ou mais metros. No caso das tôrres gêmeas, o impacto dos aviões contra as colunas de sustentação nos andares em que colidiram ocasionou a criação de cargas dinâmicas que se multiplicaram
rapidamente para os andares de baixo à medida que os de cima iam desabando.
No prédio do Rio, a televisão vem informando que obras clandestinas em um dos andares mais altos teriam removido colunas e vigas de sustentação, criando assim um desastre inexorável à espera de acontecer. Que me corrijam os colegas civis peritos em estruturas.

Atualização: passados poucos dias do catastrófico desabamento dos prédios da Cinelância, no Rio, e já começam a aparecer, mesmo sem a manifestação oficial
da perícia, indícios ou provas de que as reformas efetuadas no prédio de 20 andares ao longo dos anos foram a principal e talvez única causa do desabamento. Os donos da obra começaram dizendo que tinham feito a mesma coisa em vários outros andares; acabaram confessando que a obra não contava com um engenheiro para qualquer de suas fases; o profissional que seria o engenheiro da obra disse que o prédio "só tinha colunas de sustentação nos lados, sem nada entre elas", - o que deixa qualquer um pasmo com tanta "competência"; e por fim o Globo de hoje publicou umas fotos mostrando como o prédio era na década de 1950 e atualmente, o que prova que sofreu numerosos acréscimos, abertura indevida de janelas e tudo o mais que possa ter acontecido internamente. Realmente uma catástrofe apenas esperando para acontecer.

Thursday, January 12, 2012

Se mandem

Luiz A. Góes

O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemanden) foi criado para monitorar e alertar as populações na iminência de desastres naturais. Até agora, desde que foi criado, os que o administram devem ter levado ao pé da letra a abreviação pela qual o órgão é conhecido (Cemanden), - já que o Ministério da Educação determinou que as coisas escritas “mais ou menos” estão corretas. Mas o fizeram como quizeram entender, pois a única coisa que fizeram até agora para proteger as populações abrangidas pelas áreas com risco dos citados desastres naturais foi recomendar que “se mandem”. Estão corretos pelo menos num ponto: soa igual. Mas não deixa de ser cômico, se não fosse trágico.
Agora a governanta nomeou uma “fôrça-tarefa”, - parece que gostou dessa expressão geralmente usada por militares, - para cuidar dos problemas causados por desastres naturais. E encarregou de comandar o primeiro lance, que foi uma entrevista coletiva da qual participaram nada menos do que sete de seus ministros, aquele mesmo que mandou todo o dinheiro do govêrno federal destinado a isso para o seu próprio estado e ainda alega que o fêz cumprindo órdens da própria governanta. Mais uma vez, seria cômico, se não fosse trágico.
Aliás, lembrei-me de um episódio ocorrido durante um dos govêrnos militares que de certa forma teve muito a ver com o que está ocorrendo agora. Os governantes militares tinham o costume de nomear “fôrças-tarefas” a cada passo para enfrentar problemas que surgiam a toda hora, mesmo porque então muitos dos órgãos hoje existentes, - a exemplo desse “se mandem”, - sequer existiam. Mas davam-lhes o nome de “Comissões Interministeriais”.
O episódio, verdadeiro ou não, foi noticiado pelo Jornal do Brasil mais ou menos assim: o govêrno se lembrou que se aproximava a época das grandes chuvas anuais e não queria passar pelo vexame de nada ter feito para prevenir os desastres que poderiam advir, como grandes inundações, desmoronamentos de morros, etc, etc.
Nomeada a Comissão Interministerial para esse fim específico, seus integrantes começaram a tratar de nomear o pessoal necessário, como assessores, auxiliares de vários tipos, secretárias, motoristas, faxineiros, garçons e tudo mais que uma organização que se preza precisava ter. E ao mesmo tempo iam tratando de colocar os pedidos para fornecimento de móveis, veículos, material de escritório, material de limpeza, copos, xícaras, toalhas, etc, etc, etc, além, naturalmente, de mandarem construir um belo prédio para se instalarem condignamente.
E, evidentemente, ocupavam-se de armar os esquemas necessários para obter a dinheirama que aquelas aquisições e contratações exigiam.
Enquanto isso, o assunto ganhou os jornais, e a imprensa informava a população todos os dias sôbre o andamento dos “trabalhos”. A coisa foi chamando cada vez mais a atenção dos leitores, até que os jornais começaram a publicar cartas dos leitores reclamando que a estação das chuvas estava chegando e nada de substantivo tinha sido feito até então.
Repentinamente um dos acessores contratados, na falta do quê fazer para passar o tempo enquanto os “trabalhos” não começavam, lembrou-se de ler os jornais, e deparou com as tais cartas dos leitores. Levou uma delas, mais contundente, ao conhecimento de seu chefe, que imediatamente pediu uma reunião de emergência com todos os ministros membros da Comissão Interministerial.
A reunião foi um Deus-nos-acuda, porque todos concordaram que realmente estavam para ser pêgos de calças curtas e os presidentes militares eram impiedosos diante de “mal feitos”. Imediatamente começaram a perguntar uns aos outros o quê deviam fazer, e nenhum deles parecia ter a menor idéia. Um deles sugeriu que fossem, à moda militar, fazer um “reconhecimento do terreno”, ou seja, percorrer as áreas que costumavam ficar alagadas e os morros que costumavam desabar.
O desconforto foi imenso, porque assim que começaram a aparecer em público, o público se aglomerava em tôrno deles perguntando o quê pretendiam fazer para evitar os alagamentos, os desabamentos e tudo mais. E a multidão só fazia aumentar, a ponto de parecer que não havia mais ninguém interessado em outra coisa: ninguém mais estava trabalhando, nem cuidando de seus negócios, de suas casas, de seus filhos, de nada. Todos ficavam o tempo todo só seguindo os ministros em seus passeios pelos morros e baixios.
Já mal conseguiam disfarçar o nervosismo diante dos populares, e o chefão da turma ministerial chegou a pensar em chamar as fôrças armadas para dispersar a multidão. Mas aí, repentinamente, algo muito “esquisito” chamou sua atenção: um velho que parecia mais velho do que o Papai Noel trabalhava arduamente numa encosta de morro auxiliado por um pequeno grupo de pessoas que pareciam ser seus familiares, porque também trabalhavam arduamente e obedeciam suas órdens sem discutir ou pestanejar. E nenhum deles parecia sequer notar que ali bem perto estavam nada menos do que vários ministros do govêrno federal seguidos por uma multidão incalculável.
O chefão, diante daquilo, não se conteve e perguntou a um de seus assessores quem era aquele velho e o quê estava fazendo. O assessor não sabia e ficou de ir descobrir. Foi até lá, fêz algumas perguntas e voltou logo depois com a resposta: ”O nome dele é Noé, e êles estão construindo um barco…”
Seria cômico se não fosse trágico, mas o Noé já tinha entendido muito bem naquela época, muitas décadas antes do “se mandem” e da mais recente “fôrça-tarefa” da brilhante governanta, que o negócio era se mandar. E estava construindo o barco de que precisaria para se safar com sua família.
Apesar de toda a auto-promoção dos atuais (des)governantes, as coisas não mudaram nada, não é verdade?