Observador Isento (Unbiased Observer)

A space for rational, civilized, non-dogmatic discussion of all important subjects of the moment. - Um espaço para discussão racional, civilizada, não dogmática de todos os assuntos importantes do momento.

Monday, May 28, 2012

Doação de aeronaves à Bolívia

Luiz A. Góes

Vejam a reportagem abaixo e depois êste meu comentário.
A reportagem: http://www.aereo.jor.br/2012/05/24/comissao-autoriza-doacao-de-quatro-helicopteros-para-bolivia/ .
Algum de vocês já assistiu a um filme boliviano? Eu vi um apenas. Foi visivelmente feito por algum cineasta que visava só fazer cinema, aliás bonito em vários aspectos, mas sem se dar conta de que estava entregando uma história triste para a Bolívia, porque era a história de uma guerra em que foram atacados pelo Chile e, segundo o filme, ficaram brigando entre si em lugar de se organizarem para defender-se. E assim, segundo aquele filme, perderam a guerra.
Anos depois, um chileno, sem saber nada sôbre o filme, e a propósito da tomada das refinarias da Petrobrás pelos bolivianos, contou-me o seguinte:
A faixa de terra que hoje é o norte do Chile era originalmente pertencente em parte à Bolívia, que tinha uma saída para o mar, e o restante pelo Peru. Naquela região há muitos recursos minerais, e empresas chilenas investiram lá grandes fortunas, em lugar de investirem em outras partes do Chile.
Um dia a Bolívia resolveu nacionalizar as empresas chilenas de mineração e metalurgia em seu território, no que foi secundada pelo Peru, que por sua vez se apoderou das empresas chilenas localizadas em seu território.
O Chile imediatamente mandou tropas para retomar as empresas e em seguida prosseguiu a invasão, até alcançar La Paz e Lima. E colocou, como condição para a desocupação, a entrega dos territórios onde as empresas se localizavam.
Assim, a Bolívia perdeu sua saída para o mar e o Peru perdeu um território extremamente rico em cobre e salitre.
Essa história é muito pouco conhecida pelos não chilenos, mas se o insígne retirante pinóquio soubesse dela e tivesse um pouquinho só de amor próprio (porque amor pelo Brasil e pelos brasileiros já vimos que não tem mesmo), teria agido muito diferentemente no caso das refinarias. E o Brasil não estaria fazendo esse papél de bobo dando aeronaves a quem é, em realidade, nosso inimigo.
Na vida, como no amor, entre pessoas e entre povos e países, é sempre mais importante saber identificar quem gosta da gente e não de quem a gente gosta, seja por que motivo for. Quem não sabe fazer isso, sempre se estrepa.


Atualização: no endereço  http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,bolivia-pede-pela-primeira-vez-renegociar-fronteiras-com-chile,882807,0.htm , reportagem do Estadão dá conta de que a Bolívia está solicitando renegociar fronteiras com o Chile para recuperar a saída para o mar. Devido a esse problema, os dois países não têm relações diplomáticas desde 1978, e o Chile se recusa constantemente a rever o assunto.

Wednesday, May 16, 2012

O galo português

Luiz A. Góes

Viajando em Portugal, ouvimos muitas histórias e estórias. Tudo muito interessante quando acompanhado fisicamente pela visão dos castelos, mosteiros, igrejas, catacumbas, ruinas, escavações arqueológicas, escadarias sem fim, ladeiras e, indubitavelmente, o povo português com suas amabilidades e seus maneirismos.
Dentre as histórias ou estórias que ouvimos, resolvi registrar esta, do galo português, porque o galo como símbolo de Portugal sempre me intrigou bastante.
Eis o que nos contaram: um peregrino se dirigia a Santiago de Compostela nas tradicionais peregrinações a pé. Passando por Braga, no norte de Portugal, pediu pousada em uma fazendola. O proprietário o acolheu, deu-lhe de comer e autorizou-o a pernoitar num galpão que havia nos fundos da casa.
No meio da noite, surgiu por lá a esposa do anfitrião com uma conversa que o peregrino achou esquisita e a mandou de volta para seu marido.
Ofendida pela rejeição, a mulher resolveu vingar-se: escondeu na mochila do peregrino um objeto de prata de estimação de seu marido, e quando o marido deu pela falta, acusou o peregrino de tê-lo roubado. Acionaram a polícia da época e foram atrás do peregrino, que foi preso e, tendo o objeto sido encontrado em sua mochila, foi condenado a morte na fôrca.
O peregrino insistia constantemente em sua inocência, entretanto, e antes que o enforcassem pediu para falar com seu acusador. Levaram-no à presença do sitiante, que estava à mesa pronto para almoçar um enorme frango assado.
O peregrino lhe disse, mais uma vez, que era inocente. E olhando para o frango assado, afirmou: “Podem me enforcar, mas quando o fizerem esse galo vai cantar”.
Levaram-no dali diretamente para o cadafalso. No momento do enforcamento o nó de enforcamento não funcionou, salvando-lhe a vida, mas assim mesmo o galo cantou como o peregrino tinha previsto.
O fazendeiro, impressionado, mandou imediatamente um criado avisar que o peregrino era realmente inocente e devia ser solto, porque tinha operado um milagre: um galo assado tinha cantado como previra.
E assim, o “galo de Braga” se tornou um dos símbolos de Portugal.
Como disse, pode ser uma história ou apenas uma estória, mas não deixa de ser interessante.

Saturday, May 12, 2012

Os pés

Luiz A. Góes

Os pés são mesmo intrigantes! São os nossos burros de carga: suportam o nosso peso, levam-nos aonde queremos ir, levam pancadas, pisões, sofrem constantemente. Dos pés tem dependido praticamente tudo o que o gênero humano fêz e faz: não é preciso falar muito sôbre isso. Até os melhores vinhos que bebemos são produzidos com uso intensivo dos pés: já pensaram nisso?
Mas os pés são feios, a meu ver a parte mais feia do corpo: pés bonitos são exceção absoluta.
Aliás, em quê consiste a beleza dos pés? Alguém já conseguiu definir isso?
Chamam a atenção coisas como a classificação dos pés em tipos egípcio, grego e quadrado. Diz-se egípcio quando o artelho maiór é mais longo do que o seguinte, e grego quando é mais curto. E quadrado quando os três artelhos maiores (pelo menos) têm o mesmo comprimento.
Cada tipo de pé teve seu prestígio nas artes, por exemplo, em determinados períodos da história. Na civilização greco-romana o pé grego predominou durante muitos séculos, - isso pode ser constatado facilmente percorrendo-se livros e revistas sôbre escultura e pintura. Mas entre nós o pé egípcio parece ser mais frequente.
Outra coisa interessante é o fato de que as mulheres parecem gostar de exibir os pés, mesmo que sejam feios, usando calçados abertos ou simples chinelas “de dedo” sempre que podem. E atraem a atenção das pessoas para êles pintando as unhas dos pés com cores vivas e chamativas. Será que preferem que olhemos para seus pés em lugar de olharmos para suas faces?
Em passado não muito remoto acontecia o contrário: as mulheres escondiam os pés. Especialmente as jóvens eram expressamente proibidas de exibir os pés, particularmente aos namorados, se os tivessem.
O que está por trás de tudo isso é o fato de que o centro de comando dos pés, no cérebro, é o vizinho mais próximo do centro de comando da libido, ou do sexo. Ver ou tocar os pés inevitavelmente provoca alguma reação da libido, ou seja, exibir pés é o mesmo que executar um strip-tease virtual, porque a imaginação de cada um se encarrega de produzir nas mentes aquilo que o visual (ainda) não permite.
É claro que a indústria cinematográfica descobriu isso bem cedo, e tratou de explorá-lo, particularmente enquanto exibir umas tantas outras coisas nas telas ainda era impossível. Exibir um beijo explícito, por exemplo, só veio a ocorrer pela primeira vez há relativamente pouco tempo, mas exibir pés nunca foi objeto de qualquer inibição. Na televisão e no cinema, aliás, as cenas envolvendo pés, pés se tocando, um massageando o pé do outro, etc, vêm se tornando cada vez mais frequentes e explícitas, sem qualquer dúvida substituindo cenas de sexo que por alguma razão não podem ou não devem ser exibidas.
É bem provável que os dublês de pés tenham encontrado trabalho muito mais cedo no cinema do que os dublês de corpo, porque não ficaria bem exibir os pés feios de uma atriz bonitinha: não combinaria. E seria ingenuidade pensar que todas as atrizes tidas como bonitas tinham ou têm pés bonitos.
A indústria calçadista também é beneficiária da constatação de que os pés têm algo a ver com a libido: produz calçados com belos visuais, mesmo que deixando a parte funcional de comodidade e proteção, mais importante, aquém do desejável. Esses belos visuais se destinam a substituir a beleza natural que falta à maioria esmagadora dos pés femininos, disfarçando ou encobrindo seus “defeitos” e desviando a atenção dos pés para o calçado, produzindo assim uma espécie de democratização da desejada beleza dos pés dos desejos.
Outras partes do corpo, como os joelhos e os cotovelos, talvez disputem com os pés a falta de beleza, mas não têm a sorte de serem comandadas por um centro de contrôle tão bem situado no cérebro quanto o que comanda os pés.

Tuesday, May 08, 2012

Trocas de nomes

Luiz A. Góes

Está em tramitação no Rio de Janeiro um projeto de lei visando mudar o nome da Ponte Rio-Niterói de Ponte Costa e Silva para Ponte Herbert de Souza, ou Ponte Betinho. Parece que os esquerdistas querem apagar o passado e implantar os nomes de seu agrado em lugar daqueles de que não gostam, sem se darem conta de que o passado jamais pode ser apagado. E, no caso em tela, a Ponte Rio-Niterói será sempre conhecida como a Ponte Rio-Niterói, independentemente do nome que quizerem lhe dar conforme a ideologia dos poderosos do momento.
Quem chega a São Paulo vindo do exterior se surpreende ao ser informado que o avião aterrará no Aeroporto Governador André Franco Montoro, que é o nome do Aeroporto de Guarulhos atualmente. Não sei quem teve a idéia (de jerico) de inventar um nome para o aeroporto diferente daquele pelo qual é universalmente conhecido: será sempre conhecido mundo afora como o Aeroporto de Guarulhos.
Em Salvador há uma rua com o nome de um cidadão de origem árabe, mas que é conhecida como Baixa do Sapateiro. Baixa do Sapateiro é nome consagrado, inclusive, em prosa e verso e na grande música de Dorival Caymi: mudar-lhe o nome foi, a meu ver, um verdadeiro sacrilégio. 
De volta a São Paulo, uma rua muito antiga chamada Luiz Góes teve seu nome trocado para Luis Gois. O nome original pertenceu a um integrante da expedição de Martim Afonso de Souza em 1532. Agraciado por êste com a Sesmaria de Enguaguaçu, tornou-se o fundador da cidade de Santos, conforme pesquisas históricas acuradas, - erroneamente a fundação de Santos é atribuida a Braz Cubas, que fundou, em realidade, a cidade de Cubatão. Talvez eu ainda conte essa história oportunamente.
Voltando ao Luiz Góes da rua de São Paulo: há alguns anos algum administrador obtuso achou que a grafia estava errada e a mudou para Luis Gois, que historicamente nem existiu. (Será que foi algum inimigo meu que não gostava do meu nome?)
O mesmo aconteceu com o nome do nosso amado Brasil: o nome do país, desde a independência e mesmo antes dela, sempre tinha sido Brazil, que vem de "braza", como se escrevia antigamente a palavra brasa, - o nome da madeira vermelha cor de brasa que existia em quantidade por aqui era "pau-brazil". O nome do país era Brazil, mas quando mudaram a grafia da palavra brasa, resolveram mudar também a do nome do país, o que foi, sem dúvida, uma asneira sem tamanho.
Uma cidade do interior do Estado de São Paulo sempre foi conhecida como Borboleta. Lá para as tantas mudaram-lhe o nome para Badih Bacit, quando um parente desse personagem se tornou politicamente importante na região e inventou a idéia. Aí prevaleceu o chamado personalismo, de que temos exemplos abundantes: houve uma época em que tudo o que se construía ou fazia no Estado e na Cidade de São Paulo ganhava um nome contendo os nomes Paulo ou Maluf: a família inteira está representada nas ruas, praças, pontes, avenidas, túneis, empresas públicas, etc, etc.
Em Porto Alegre há um viaduto com o nome de um general não sei das quantas, mas que é conhecido como Viaduto da Marli. A história desse viaduto é muito interessante e precisa ser contada já, - de acôrdo com o que me contaram quando estive por lá na época dos acontecimentos.
Foi durante os govêrnos militares, e deram ao viaduto o nome de um general de que não me lembro, nome esse que deve ser o oficial até hoje.
Logo que a construção começou, os portoalegrenses perceberam que o viaduto terminava bem em frente a um conhecido bordel, então conhecido como Casa da Marli, e começaram a se referir ao dito cujo como "Viaduto da Marli". A obra prosseguiu até que, um belo dia, um importante jornal de Porto Alegre publicou em manchete: "Será inaugurado amanhã o Viaduto da Marli".
Naquele mesmo dia a polícia bateu na Casa da Marli, expulsou todas as ocupantes e destruiu tudo. Mas apesar do empastelamento o agora célebre viaduto continua a ser conhecido como Viaduto da Marli.
Se se for mudar nomes ao sabor dos desejos, das ideologias, da ignorância, das preferências pessoais, das conveniências de grupos, de interêsses econômicos particulares, ou por quaisquer outras razões, acabaremos com aquilo que há de mais importante na vida das pessoas: o próprio nome, que cada um recebe quando nasce, e o conhecimento das demais pessoas, dos lugares, etc, pelos respectivos nomes. A bagunça será geral.
Nomes nunca devem ser trocados ou modificados em suas grafias tradicionais. E os nomes dados pelo uso, pelo povo, devem ser considerados sagrados.