Observador Isento (Unbiased Observer)

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Wednesday, September 29, 2010

De novo o aquecimento global

Luiz A. Góes
Há poucos dias, lendo o jornal interno de uma empresa, deparei com um breve comentário sôbre o aquecimento global que me chamou a atenção porque parece que esse assunto virou uma espécie de questão religiosa, contando com seguidores a favor, os "crentes", e seguidores contra, os "não crentes". E, como se trata de uma questão "religiosa", nenhum dos dois lados admite discutir o assunto de maneira suficientemente isenta.
O comentário que li diz que sinais recentes, como ondas de calor inéditas e furacões avassaladores, mostram que a catástrofe a ser causada pelo aquecimento global já teve início.
E prossegue dizendo que, ainda piór do que isso, a ciência não sabe como reverter esses trágicos sintomas.
E parece concluir com uma tirada de tipo filosófico, dizendo que a saída para a geração de humanos que quase destruiu o planeta será adaptar-se a secas, furacões, cheias e incêndios florestais cada vez mais frequentes.
Segundo o comentarista, no Brasil o aquecimento do planeta ficou bem evidente no último verão, com a temperatura chegando a 45 graus centígrados em alguns lugares da região sudeste no mês de fevereiro; com a savanização da Amazonia; com a desertificação do nordeste; com ciclones no sul; e com elevação do nível do mar.
Não apresentou dados para confirmar todas as suas afirmações, e eu infelizmente também não os tenho, embora quase me inclua no rol dos "crentes". Digo "quase" porque não deixo de prestar atenção à aparente convicção com que os "não crentes" negam a existência do fenômeno. Embora venha acompanhando o assunto (meio de longe, é verdade) com interêsse, eu teria que dedicar um bocado de tempo para reunir dados e informações se quizesse confirmar as afirmações feitas pelo comentarista, mas acho que ficaria muito aquém do que seria necessário, de modo que prefiro deixar essa tarefa aos especialistas e olhar a coisa por outro ângulo.
Acho que já comentei em algum lugar que percebo duas questões distintas nessa discussão, a saber:
a) se o aquecimento global está ocorrendo ou não, e
b) se a ação do homem está contribuindo para acelerá-lo.
Ao longo da evolução do globo terrestre que a ciência tem revelado observam-se longos períodos de aquecimento alternados com longos períodos de desaquecimento, ou seja, a regra não parece ser de manutenção de uma temperatura média estável. Quer dizer: quanto à primeira questão acima citada, o problema é decidir se estamos num daqueles longos períodos de aquecimento ou num daqueles longos períodos de desaquecimento. Minha impressão pessoal é de que estamos em aquecimento.
E se estamos, sejam quais forem as suas causas, chegamos à segunda questão: somos realmente capazes de produzir estragos tão grandes a ponto de acelerarem sensivelmente esse aquecimento?
A quase ingenuidade com que o comentarista citado expõe seu ponto de vista talvez nos ajude: diz êle que os gases produzidos pelas atividades humanas acumulam-se na atmosfera formando uma camada de poluição ao redor do globo, camada essa que provoca retenção de parte dos raios infra-vermelhos das radiações solares que deveriam ser refletidos para o espaço, criando uma espécie de efeito estufa, o qual aumenta a temperatura do planeta E esse aquecimento se soma ao aquecimento já em curso devido a outras causas mais naturais, sejam elas quais forem. A ilustração abaixo, que tomei a liberdade de copiar do referido jornal, ajuda a entender essa descrição do efeito estufa:
Se correta a interpretação indicada na ilustração, temos que admitir que a ação humana efetivamente contribue para o aquecimento global, restando saber se essa contribuição é apreciável.
Não sei se alguém pode dizer que tenha solução para esse problema, mesmo porque nem o problema em si conta com reconhecimento unânime: prova disso é a existência dos "crentes" e dos "não crentes" no aquecimento global, citada acima. E é claro que não tenho nem remotamente a pretensão de resolver o problema, mas me pareceu interessante um elenco de recomendações contidas no artigo que comento para minimizar a contribuição do homem no processo de aquecimento global, caso ela seja palpável. Essas recomendações podem ser resumidas como segue:
a) regular corretamente os motores a explosão, principalmente os dos veículos, para evitar que emitam os gáses indesejáveis formadores da tal camada impeditiva da reflexão dos raios infra-vermelhos;
b) substituir tanto quanto possível o consumo de combustíveis de origem fóssil, - os derivados de petróleo e carvão, - por biocombustíveis;
c) maximizar o uso de fontes limpas renováveis, como a hidráulica, a eólica, a solar, a nuclear, a maremotriz, etc, para geração de energia elétrica, evitando ao máximo o uso da termoeletricidade, que implica em consumo de combustíveis de origem fóssil;
d) reprimir ao máximo a destruição de florestas e incentivar ao máximo o reflorestamento;
e) economizar energia ao máximo, evitando o uso de veículos individuais (e incentivando o uso de transportes coletivos), maximizando o uso de iluminação natural e evitando o uso de energia elétrica para esse fim, incentivar o uso da energia solar para fins de aquecimento, etc;
f) a nível pessoal, evitar deixar luzes desnecessariamente acesas e motores desnecessariamente ligados, usar os dois lados de cada folha de papel antes de jogá-la fora, cooperar com a reciclagem de materiais metálicos, plásticos, vidros, papéis, etc, não deixar torneiras "pingando", e tantas outras "economias" que apenas dependem de educação e auto-disciplina.
O elenco de medidas possíveis é bastante amplo, como se pode perceber, e tudo depende, evidentemente, da adoção de políticas adequadas para direcionar as ações na direção correta. Mas depende, sobretudo, de um processo educativo que contribua para conscientizar a população como um todo a respeito dessas questões. Essa conscientização, entretanto, me parece um tanto remota considerando outras prioridades, muito mais prementes, como alimentação, saúde, moradia, etc, que ainda afligem a grande maioria das pessoas e seguramente permanecerão por muito tempo na frente de qualquer preocupação de outra natureza. Mas também não podemos esquecer que a maiór parte do problema se relaciona com a minoria mais bem aquinhoada, que é a quem mais usa os agentes apontados como causadores do problema: se essa minoria for suficientemente conscientizada em prazo curto, grande parte dele, talvez a mais importante, estará resolvida.