Observador Isento (Unbiased Observer)

A space for rational, civilized, non-dogmatic discussion of all important subjects of the moment. - Um espaço para discussão racional, civilizada, não dogmática de todos os assuntos importantes do momento.

Tuesday, March 18, 2008

O poder do exemplo

Luiz A. Góes

Recebi pela internet as histórias abaixo, sem indicação de fonte ou autor. Resolvi reproduzi-las aqui devido ao seu altíssimo significado:

História número um
Muitos anos atrás, Al Capone era virtualmente o dono de Chicago. Capone não era famoso por nenhum ato heróico. Ele era notório por empastar a cidade com tudo relativo a contrabando, bebida, prostituição e assassinatos. Capone tinha um advogado apelidado "Easy Eddie". Era o seu advogado por um excelente motivo. Eddie era muito bom! Na realidade, sua habilidade, manobrando no cipoal legal, manteve Al Capone fora da prisão por muito tempo.
Para mostrar seu apreço, Capone lhe pagava muito bem. Não só o dinheiro era grande, como Eddie também tinha vantagens especiais. Por exemplo, ele e a família moravam em uma mansão protegida, com todas as conveniências possíveis. A propriedade era tão grande que ocupava um quarteirão inteiro em Chicago. Eddie vivia a vida da alta roda de Chicago, mostrando pouca preocupação com as atrocidades que ocorriam à sua volta.
No entanto, Easy Eddie tinha um ponto fraco. Ele tinha um filho que amava afetuosamente. Eddie cuidava que seu jovem filho tivesse o melhor de tudo: roupas, carros e uma excelente educação. Nada era poupado. Preço não era objeção.
E, apesar do seu envolvimento com o crime organizado, Eddie tentou lhe ensinar o que era certo e o que era errado. Eddie queria que seu filho se tornasse um homem melhor do que ele. Mesmo assim, com toda a sua riqueza e influência, havia duas coisas que ele não podia dar ao filho: ele não podia transmitir-lhe um bom nome ou um bom exemplo.
Um dia, o Easy Eddie chegou a uma decisão difícil. Easy Eddie tentou corrigir as injustiças de que tinha participado. Ele decidiu que iria às autoridades e contaria a verdade sobre Al "Scarface" Capone, limpando o seu nome manchado e oferecendo ao filho alguma semelhança de integridade.
Para fazer isto, ele teria que testemunhar contra a quadrilha, e sabia que o preço seria muito alto. Ainda assim, ele testemunhou. Em um ano, a vida de Easy Eddie terminou em um tiroteio em uma rua de Chicago.
Mas aos olhos dele, ele tinha dado ao filho o maior presente que poderia oferecer, ao maior preço que poderia pagar. A polícia recolheu em seus bolsos um poema, recortado de uma revista. O poema: "O relógio de vida recebe corda apenas uma vez e nenhum homem tem o poder de decidir quando os ponteiros pararão, se mais cedo ou mais tarde. Agora é o único tempo que você possui. Viva, ame e trabalhe com vontade. Não ponha nenhuma esperança no tempo, pois o relógio pode parar a qualquer momento."

História número dois
A Segunda Guerra Mundial produziu muitos heróis. Um deles foi o Comandante Butch O'Hare. Ele era um piloto de caça, operando no porta-aviões Lexington, no Pacífico Sul. Um dia, o seu esquadrão foi enviado em uma missão. Quando já estavam voando, ele notou pelo medidor de combustível que alguém tinha esquecido de encher completamente os tanques. Ele não teria combustível suficiente para completar a missão e retornar ao navio.
O líder do vôo o instruiu a voltar ao porta-aviões. Relutantemente, ele saiu da formação e iniciou a volta à frota. Quando estava voltando ao navio-mãe viu algo que fez seu sangue gelar: um esquadrão de aviões japoneses voava na direção da frota americana.
Com os caças americanos afastados da frota, ela ficaria indefesa ao ataque. Ele não podia alcançar seu esquadrão nem avisar a frota da aproximação do perigo. Havia apenas uma coisa a fazer. Ele teria que desviá-los da frota de alguma maneira.
Afastando todos os pensamentos sobre a sua segurança pessoal, ele mergulhou sobre a formação de aviões japoneses. Seus canhões de calibre 50, montados nas asas, disparavam enquanto ele atacava um surpreso avião inimigo e em seguida outro.
Butch costurou dentro e fora da formação, agora rompida e incendiou tantos aviões quanto possível, até que sua munição finalmente acabou. Ainda assim, ele continuou a agressão. Mergulhava na direção dos aviões, tentando destruir e danificar tantos aviões inimigos quanto possível, tornando-os impróprios para voar. Finalmente, o exasperado esquadrão japonês partiu em outra direção.
Profundamente aliviado Butch O'Hare e o seu avião danificado se dirigiram para o porta-aviões. Logo à sua chegada ele informou seus superiores sobre o acontecido. O filme da máquina fotográfica montada no avião contou a história com detalhes. Mostrou a extensão da ousadia de Butch em atacar o esquadrão japonês para proteger a frota.
Na realidade, ele tinha destruído cinco aeronaves inimigas. Isto ocorreu no dia 20 de fevereiro de 1942, e por aquela ação Butch se tornou o primeiro Ás da Marinha na 2ª Guerra Mundial, e o primeiro Aviador Naval a receber a Medalha Congressional de Honra . No ano seguinte Butch morreu em combate aéreo com 29 anos de idade. Sua cidade natal não permitiria que a memória deste herói da 2ª Guerra desaparecesse, e hoje, o Aeroporto O'Hare, o principal de Chicago, tem esse nome em tributo à coragem deste grande homem.
Assim, se por ventura você passar no O'Hare International, pense nele e vá ao Museu em homenagem a Butch, veja a sua estátua e a Medalha de Honra. Fica situado entre os Terminais 1 e 2.

O que têm estas duas histórias de comum entre elas? Butch O'Hare era o filho de Easy Eddie.

E agora cabe a pergunta: o quê os governantes e homens públicos de hoje estão preparando como exemplos para o dia de amanhã?

Wednesday, March 05, 2008

Como destruir a Amazônia sem sair de casa?

Luiz A. Góes

Todos os dias somos bombardeados por novas notícias sôbre a destruição da Amazônia, e a maioria das pessoas pensa que esse verdadeiro crime está sendo perpetrado apenas pelos invasores de todos os tipos, pelos madeireiros internacionais, etc, mas não se dão conta de que cada um de nós colabora para essa destruição todos os dias sem nos darmos conta disso. O artigo abaixo, de autoria de João Meirelles Filho, é muito oportuno para lançar luzes nessa questão que nos passa despercebida:

"Se você acha que a culpa do desmatamento é do governo, você tem razão.
Claro que é culpa da inoperância dos órgãos públicos, que não conseguem controlar desmatamentos, queimadas, e nem a lenha que garante o seu pãozinho de cada dia nas padarias da região e de boa parte do Brasil.
Será que a culpa é só daqueles a quem você emprestou seu voto e sua confiança, daqueles a quem você passou procuração para decidir, em seu nome, o que você consome nos super-mercados?
Ou será este um problema da Nação a que você e eu pertencemos, ou fingimos pertencer.
Como você se sente diante do circo anual quando o chefe da Nação esbraveja ao ver as taxas de desmatamento fora de controle e solta decretos a torto e a direito, esperando que sejam cumpridos? Você acha que seus chefes realmente levam a sério este assunto? O que eles pensam quando servem seu George (o Bush) um churrasco para na Granja do Torto?
Até quando você vai acreditar nesta novela? Nesta conversa de que medir
desmatamento e queimadas serve para alguma coisa?
Só serve para dizer o que você já sabe muito bem: a coisa vai muito mal, cada vez pior. Afinal, medir desmatamento e queimada é medir conseqüência e não causa.
É como medir a febre do doente, certificar-se que ele tem mesmo febre e, ir
dormir, ir fazer churrasco, nada fazer, esperando, que, se tudo der certo, um dia, o doente, se sobreviver, irá melhorar.
É assim que age o governo que você elegeu, porque, você, cidadão brasileiro
não liga a mínima para as causas que provocam desmatamento e queimada. Ou melhor, não está muito interessado em saber que quem causa a destruição da Amazônia é você mesmo, ao comer o seu bifinho de cada dia, o seu churrasquinho de fim de semana, o seu pãozinho de cada dia.
O que efetivamente causa desmatamento? Na Amazônia a resposta é muito
clara: a pecuária bovina extensiva, que responde por mais de 3/4 do estrago, e bem depois, muito depois, vem as outras causas, a soja (que cresce rapidamente), a retirada de madeira (que financia as novas derrubadas e pastagens), e muitas outras que, claro, juntas, são terrivelmente devastadoras. Aliás, esta é a história do Brasil. A história da pata do boi. Assim, seus tataravôs engoliram a Mata Atlântica e a Caatinga, e seus pais e você devoram o Cerrado e a Amazônia.
Só se cria boi porque há consumidor de carne. O pecuarista só existe porque ganha mais dinheiro com o boi. Se outra coisa (legal) fosse mais lucrativa, mudaria de ramo. E o pecuarista só cria boi porque há cada vez mais consumidor querendo comer carne, carne barata.
Quem consome a carne da Amazônia é tanto quem mora na região (menos
de 10% da produção), como os brasileiros das outras regiões (mais de 80%). A participação das exportações ainda é pequena, inferior a 10%, mesmo se considerar os 600 mil bois vivos que despachamos, sem pagar impostos, para a desabastecida Venezuela e o violento Líbano em guerra.
Hoje, na Amazônia, é possível produzir carne muito barata porque o alto
preço social e ambiental não são considerados. O pecuarista raciocina: por que se preocupar em conservar as matas, as águas, as populações tradicionais e as milenares culturas? Por que seguir a lei trabalhista, pagar impostos, legalizar as terras, se não há fiscalização?
O Brasil decidiu (e você participa desta decisão como eleitor e consumidor)
transferir 1/3 de seu rebanho para a Amazônia. Na década de 1.960 eram 1 milhão de bois na região, hoje, menos de meio século depois, são 75 milhões. Mais que em toda a Europa! Há muita gente envolvida, não são apenas aqueles 21 mil médios e grandes pecuaristas (com propriedades acima de 500 hectares). Há também 400 mil pequenos pecuaristas, em sua maior parte economicamente inviáveis.
Resultado: em menos de 40 anos, somente com a pecuária, destruímos mais de 70 milhões de hectares do mais complexo e desconhecido conjunto de florestas tropicais do Planeta. É pouco, você dirá, menos de 20% da região, ou, se preferir, meros 8% do território do Brasil.
No entanto, esta superfície é superior à soma das áreas do estado do Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro somados.
Destruídos. Para que? Para você comer picanha, picadinho e croquete mais baratos.
Será que alguém realmente se beneficiou com isto? Será que os filhos dos
pecuaristas realmente terão uma vida melhor porque estão na Amazônia
desmatada? Dificilmente. A pecuária não consegue garantir nem a rentabilidade de uma aplicação trivial em um banco, como a poupança ou um CDB. É o pior negócio que existe, só sobrevive porque é ilegal.
De cada três bifinhos que você come, um vem da Amazônia. Você não
pergunta para o seu Zé açougueiro nem para o seu Diniz do Pão de Açúcar ou para o presidente do Carrefour, ou para outro dono de supermercado de onde vem a carne. Você também não pergunta de onde vem a soja, o arroz, e tantos outros produtos. Enfim, como consumidor você sabe muito pouco sobre o que você consome, qual o seu impacto no planeta, quantos quilos de carbono, de água, de suor foram gastos para produzir o seu luxo do momento. Seu fornecedor também não se interessa por educá-lo, informá-lo, orientá-lo. Para ele responsabilidade social é comprar meia dúzia de cestinhas e docinhos de comunidades “em alto risco social” e ganhar comenda e prêmio de associações empresariais.
E se você efetivamente perguntasse ao dono do estabelecimento? E se você
fosse às últimas conseqüências, abandonasse o produto na prateleira? E se, de agora em diante, você fosse 100% coerente em relação a sua responsabilidade como cidadão, cidadão comedor das Amazônias? Das Matas Atlânticas?
Você deixaria de comprar a carne que vem com gosto de Amazônia
queimada, devastada e escravizada? A carne que saiu do norte de Mato Grosso, do sul do Pará, do Marajó, do centro de Rondônia, do sul do Acre e do Amazonas?
Você deixaria de comer a Amazônia? Você seria capaz de abandonar seu antigo fornecedor de alimentos se ele não levasse a sério a sua pergunta: de onde vem esta carne? Ou melhor, esta carne vem da Amazônia?
Se sua resposta é: tanto faz, então sugiro que desligue a televisão, vá curtir
o seu quente verão de aquecimento global e tome tudo isto como conversa para boi dormir. Se, entretanto, achar que vale a pena seguir adiante, então, tome uma atitude. Pilote com mais atenção o seu carrinho de compras. A cada passo que você dá no supermercado, é você quem decide o futuro do planeta (e não o dono do reluzente estabelecimento, ou o diretor de marketing da empresa, ou o gênio da agência de propaganda que ainda insiste em usar crianças ou em desrespeitar as mulheres para vender mais).
Se você quer entregar algo da Amazônia a você mesmo, ou a seus
descendentes, deixe este olhar bovino de lado, abandone seu comportamento de consumidor passivo. O mundo todo já percebeu que o Brasil está transformando a Amazônia em um imenso curral. É isto que você quer? Você acha que o mundo vai mesmo ficar de braços cruzados vendo o Brasil fazer churrasquinho da Amazônia?
Pois então, vamos agir, enquanto é tempo, antes que sejamos obrigados,
envergonhados, a sofrer sanções internacionais hoje inimagináveis. Vamos enviar o boi de volta para o zoológico e para o presépio, de onde jamais deveria ter saído.
João Meirelles Filho"