Observador Isento (Unbiased Observer)

A space for rational, civilized, non-dogmatic discussion of all important subjects of the moment. - Um espaço para discussão racional, civilizada, não dogmática de todos os assuntos importantes do momento.

Sunday, May 15, 2011

"Os livro tá na estante"

(Assustaram-se com o título? O MEC diz que está correto.)
Luiz A. Góes

No endereço http://michaelis.uol.com.br/novaortografia.php encontra-se um Guia Prático da Nova Ortografia, de acôrdo com o decreto assinado pelo Presidente da República há alguns meses. Pessoalmente acho essa reforma ortográfica absurda em muitos aspectos, além do fato de o decreto ter sido assinado por um governante que proclama constantemente nunca ter lido um livro e que não lê jornais porque dá azia, - governante esse que aboliu de sua fala coisas como o plural, a concordância gramatical, etc, e que faz constantemente a apologia da ignorância, gabando-se de ter feito “mais” do que todos os seus antecessores apesar de nunca ter estudado além de um curso de torneiro mecânico.
Agora, para pasmo de todos, o Ministério da Educação acaba de publicar um livro ou cartilha, distribuido a milhões de estudantes em todo o país, segundo o qual a frase que escolhi para título desta mensagem está "correta".
Os autores ou autoras do tal livro dizem que está bem falar e escrever errado, que as regras de gramática não precisam ser obedecidas e outras sandices do gênero.
Justificam-se dizendo que na frase acima (ou em outra frase semelhante, não me lembro bem), a palavra "os" já indica que se trata de mais de um livro, e por isso não é preciso se preocupar com essas bobagens de concordância, tempo correto do verbo, e por aí afora.
Esse livro mais parece ter por objetivo justificar e oficializar o linguajar tosco do ex-governante, que dizia e ainda diz falar a "linguagem do povo". Pode ser válido a um político populista falar de seus palanques usando a maneira e os maneirismos usados pelo povão ao falar: seu objetivo é, nessas ocasiões, aproximar-se das pessoas ignorantes, - sim, porque as não ignorantes percebem perfeitamente a grosseria cultural desse tipo de linguagem, - para ganhar votos, sem se incomodar com outros aspectos que melhor beneficiariam essas pessoas, como por exemplo ensiná-las a falar melhor.
Mas como o insígne doutor por acaso, como mencionei acima, sempre propagandeou que mesmo "sem leitura" foi capaz de fazer "muito mais" (a meu ver bobagens desastrosas) do que todos os seus antecessores, que se orgulha de nunca ter lido um livro e não lê jornais porque dá azia, - agora nos vêm com essa barbaridade para justificar as barbaridades verbais e gramaticais do insígne doutor por acaso, apesar de esse mesmo doutor por acaso ter assinado essa tal reforma ortográfica, - evidentemente sem saber o quê estava assinando, como se conclue de suas próprias afirmações.
Alguns comentaristas ponderam que talvez esse linguajar tosco seja para onde estamos indo, porque o idioma é feito pelo uso, que consagra suas modificações ao longo do tempo. Pode ser que dentro de algum tempo certas formas de falar, hoje gramaticalmente incorretas, se tornem a regra, como já vimos acontecer numerosas vezes, e que muitos êrros gramaticais atuais, até por fôrça de reformas ortográficas absurdas como a mais recente, venham a se tornar a regra.
Mas as transformações do idioma que se revelam sadias e positivas levam séculos para se firmar, enquanto que essa reforma, e essa cartilha, querem de repente oficializar a linguagem da ignorância, e todo idioma que se preza sempre foi fruto do cultivo que lhe fazem as elites pensantes e educadas dos países em que são usados, nunca das camadas ignorantes de suas populações. O que estão fazendo é desmontar completamente um dos mais básicos elementos da cultura brasileira, a sua linguagem, fazendo-a desmanchar-se em linguajares e textos de qualidade abaixo de qualquer crítica.
A que ponto estamos chegando nesse tremendo festival de besteiras que assola o Brasil! O Stanislaw Ponte Preta está fazendo muita falta!