Observador Isento (Unbiased Observer)

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Monday, April 08, 2013

A causa

Luiz A. Góes

Cresci ouvindo a recomendação "Faça economia!", repetida a cada passo a propósito de quase tudo. Era, provavelmente, lugar comum na esmagadora maioria dos lares com parcos recursos da época, e seguramente ainda o é, com as variações necessárias a esta época de ilusões de toda sorte incutidas constantemente nas cabeças das pessoas por governantes irresponsáveis.
Coisa impossível de compreender para crianças de pouca idade, evidentemente, e a recomendação vinha quase sempre acompanhada de algum comentário a respeito de inflação, ainda mais difícil de compreender.
Com os anos ia-se assimilando a idéia de que inflação queria dizer aumento de preços de tudo aquilo que precisávamos para viver, a começar por alimentos e roupas. E também com os anos ia-se começando a perguntar por quê a inflação existia, já que se tratava de uma coisa aparentemente sem qualquer utilidade.
A explicação geralmente dada pelos "grandes" - que é como nos referíamos aos adultos naquela época - era que os "tubarões" nunca estavam satisfeitos com os preços que cobravam e sempre queriam cobrar cada vez mais pelos produtos que vendiam, tornando cada vez mais difícil chegar-se ao final do mês com os salários que os pais e mães de família conseguiam ganhar.
E também com os anos, enquanto nossa visão de mundo se ampliava por meio das lições de história e geografia, íamos aprendendo que em países ditos "desenvolvidos" não havia, ou havia muito pouca inflação.
Quer dizer: íamos aprendendo que inflação exagerada era coisa de país não desenvolvido, ou subdesenvolvido, como o nosso, mas era mal em grande extensão banido dos países desenvolvidos.
Não sabíamos, evidentemente, o quê seria um país desenvolvido, mas percebíamos, pelo que ouvíamos, que a inflação era coisa realmente inútil e que podia ser extinta, já que países em melhor situação do que a nossa não a tinham.
E foi assim que eu, pelo menos, comecei a fazer a pergunta crucial: "O quê causa a inflação?"
Com o tempo foi ficando claro que a inflação representa um verdadeiro confisco de boa parte do dinheiro que uma pessoa ganha com seu trabalho: um verdadeiro imposto que não se chama imposto, mas é ainda piór porque torna o futuro, principalmente o futuro próximo, o dia de amanhã, quando não já o de hoje, extremamente incerto.
Fazendo sempre a mesma pergunta, cheguei, depois de alguns anos, à convicção de que a causa da inflação é o déficit governamental. Isso porque o govêrno tem o poder de emitir dinheiro quando suas contas não fecham. Só o govêrno o tem, ninguém mais. E quando emite dinheiro e o coloca em circulação para cobrir o seu déficit, faz com que instantaneamente todo o dinheiro em circulação passe a valer menos já que o total de bens e serviços disponíveis continua exatamente o mesmo. E quando o dinheiro tem seu valor "diluido" dessa forma, os preços sobem.
Essa visão pode ser considerada simplista, evidentemente, já que muitos outras causas e efeitos podem ser arguidos, como por exemplo a tal "expectativa inflacionária", mecanismo de natureza psico-social que faz com que a própria inflação gere mais inflação, ou a confusão entre inflação e os efeitos da lei de oferta e procura, tão básica em qualquer economia. Mas o que deflagra o processo inflacionário é, sem dúvida, o déficit governamental: se alguém de nós inventar de gastar mais do que ganha, vai seguramente arruinar-se e acabará em total miséria porque não tem qualquer "saída", nenhum poder legal de criar dinheiro, ou meios de pagamento, como fazem os govêrnos. São os govêrnos, ou, melhor dito, os maus govêrnos, os causadores do flagelo inflacionário.
Um govêrno, quando imprime dinheiro indevidamente, gera inflação e não sofre nenhuma punição a não ser que venha a perder a próxima eleição: a punição é sempre muito branda. Já um indivíduo, se imprime dinheiro, o faz sempre indevidamente, e é imediatamente qualificado como falsário e severamente punido, trancafiado numa prisão ou coisa piór.
Levou muito tempo para encontrar-se uma forma de domar a inflação galopante que nos infernizava por décadas a fio, e cheguei a pensar que nunca mais cairíamos em situação semelhante, que a lição tinha sido aprendida. Foi um processo doloroso, como todos sabem, e boa parte do confisco inflacionário antes existente teve que ser substituido por impostos propriamente ditos, enquanto que ao mesmo tempo criavam-se dispositivos e mecanismos para forçar os governantes a manterem as contas equilibradas.
Só que não se contava com certos "problemas", como por exemplo o de que poderíamos vir a ser governados por gente que acredita ser capaz de fazer milagtres, de operar prodígios, apenas empregando conceitos ideológicos. Que são capazes de matar a fome de multidões dando-lhes o peixe em lugar de ensinar-lhes a pescar.
Esse pessoal lançou-se a um frenesi arrecadatório que parece não ter limites, com a incidência tributária total nunca parando de aumentar a ponto de já estarmos em nível de país com o mais alto nível de impostos do mundo.
E parecem não se dar conta de que não se resolvem problemas econômicos apenas com "programas", "bolsas", multiplicação de ministérios, "base aliada" mantida à custa de benesses para garantir os votos da próxima eleição e outros expedientes menos perceptíveis mas igualmente ou ainda mais danosos.
Abriram o crédito colocando-o ao alcance de um sem número de pessoas promovidas à classe média por decreto, sem que suas rendas tivessem de fato aumentado para tanto, a fim de aumentar a demanda, o consumo, visando vacinar a economia contra a paradeira que vem assolando todo o mundo. Algum resultado essa receita surtiu num primeiro momento, evidentemente, mas a capacidade de endividamento do povão está esgotada, e mais crédito e extensão de prazos para isenção de certos impostos não estão mais surtindo o efeito desejado. Partiram para o que chamam de "desonerações", ou seja, para reduzir impostos que sempre reclamaram serem insuficientes, como por exemplo os incidentes sôbre as folhas de pagamento. Das duas uma: ou não existe o propalado déficit previdenciário ou estão cometendo uma verdadeira loucura.
O engraçado disso tudo é que agora surgiu a solução mágica de dizer, quando as contas evidentemente não fecham, que o tesouro cobrirá a diferença. De onde pensam que vem o dinheiro do tesouro? Será que pensam ser inesgotável? Não se dão conta de que isso coloca as máquinas de imprimir dinheiro em movimento e traz de volta a inflação galopante? Vão enganar-se, e nos enganar, manipulando os índices de inflação, - como também vem fazendo a hermana mais ao sul, - achando que esse problema (a inflação) logo passará por si? Já esqueceram as lutas e o sacrifício que a inflação galopante exigiu para ser debelada?
Está na hora de dizer a essa gente qual é a causa da inflação! Não acham?