Fugindo do carnaval
Luiz A. Góes
Passamos os dias de carnaval numa espécie de chácara no interior do Estado, a convite de parente que é co-proprietário daquele "recanto".
Passamos os dias de carnaval numa espécie de chácara no interior do Estado, a convite de parente que é co-proprietário daquele "recanto".
Foram dias agradáveis, sem qualquer dúvida, inclusive porque os nossos hospedeiros, cheios de juventude e saúde, agitam as coisas o dia inteiro: constróem, reformam, inventam passeios, organizam churrascos, - sempre regados de boa cerveja, caipirinhas, etc, - recebem visitas, visitam os demais co-proprietários, fazem "peregrinações" ao comércio da região (principalmente as mulheres), e até sáem para comprar jornal, coisa que não estamos mais acostumados a ver ou fazer.
Tem-se algum acesso à Internet, mas pouco, e se vê televisão, mas a maioria fica, depois do jantar, batendo papo, jogando conversa fora, comentando as notícias, - particularmente, pela coincidência, o terremoto do Japão, - e lá pelas dez e meia da noite todos já começam a se recolher, até mesmo devido à necessidade de por na cama a numerosa criançada.
Numa dessas noites, a maioria já estava na cama para dormir, por volta das onze e meia, quando ouvimos uns estouros e silvos. Pensei em fogos de artifício, mas logo me lembrei que no carnaval esses fogos são pouco usados, e devido à persistência chegamos logo à conclusão de que se tratava de um tiroteio.
Ia me levantando para verificar, mas logo mudei de idéia e ficamos deitados: se fosse realmente um tiroteio, eu podia, sem querer, acabar me metendo na trajetória de alguma bala perdida, e assim resolvi ficar deitado. Fiquei à escuta e não me pareceu que alguém mais na casa tivesse se levantado, de modo que depois de algum tempo, restabelecido o silêncio, finalmente dormimos.
No dia seguinte, com algumas exceções (o pessoal de sono mais pesado, e alguns com problemas auditivos), não se falava de outra coisa. Tinha sido programado um churrasco coletivo, de modo que quase todos os co-proprietários se reuniram a partir do meio da manhã, para arrumar as coisas, preparar a comida, a bebida, e principalmente conversar, contar histórias e estórias, e dar boas risadas.
O pessoal de uma das casas disse que, como estava fazendo calor, tinham ficado fora da casa até mais tarde. De repente começaram a ouvir os estouros e os silvos das balas, e correram para dentro alarmados.
Um dos presentes disse que tinha ido, logo cedo, até um pequeno supermercado situado a pequena distância, o qual costuma ficar aberto à noite, e lá ficou sabendo que tinha havido um assalto, que o segurança do supermercado enfrentou os bandidos a bala e matou um deles. Minutos depois chegou a polícia, que deu caça aos bandidos que se evadiam, prolongando o tiroteio. Alguém comentou que aquele supermercado costuma ser assaltado porque é o único que fica aberto até tarde da noite: os bandidos esperam pela hora de fechar, para que se acumule mais dinheiro na caixa, e só então assaltam. Parece que alguém teria avisado por telefone, um par de horas antes, que haveria o assalto, o que teria contribuido para a eficiente reação do segurança, e para a rápida vinda da polícia, muito embora a coisa tenha ficado um tanto inexplicada.
Nas noites seguintes não aconteceu mais nada do gênero, e o pessoal começou a reclamar que tudo tinha ficado monótono demais, de modo que começaram a deixar o local, retornando às suas residências em São Paulo ou outras cidades.
De nossa parte, falando francamente, não esperávamos nem de longe passar um carnaval tão emocionante.
Tem-se algum acesso à Internet, mas pouco, e se vê televisão, mas a maioria fica, depois do jantar, batendo papo, jogando conversa fora, comentando as notícias, - particularmente, pela coincidência, o terremoto do Japão, - e lá pelas dez e meia da noite todos já começam a se recolher, até mesmo devido à necessidade de por na cama a numerosa criançada.
Numa dessas noites, a maioria já estava na cama para dormir, por volta das onze e meia, quando ouvimos uns estouros e silvos. Pensei em fogos de artifício, mas logo me lembrei que no carnaval esses fogos são pouco usados, e devido à persistência chegamos logo à conclusão de que se tratava de um tiroteio.
Ia me levantando para verificar, mas logo mudei de idéia e ficamos deitados: se fosse realmente um tiroteio, eu podia, sem querer, acabar me metendo na trajetória de alguma bala perdida, e assim resolvi ficar deitado. Fiquei à escuta e não me pareceu que alguém mais na casa tivesse se levantado, de modo que depois de algum tempo, restabelecido o silêncio, finalmente dormimos.
No dia seguinte, com algumas exceções (o pessoal de sono mais pesado, e alguns com problemas auditivos), não se falava de outra coisa. Tinha sido programado um churrasco coletivo, de modo que quase todos os co-proprietários se reuniram a partir do meio da manhã, para arrumar as coisas, preparar a comida, a bebida, e principalmente conversar, contar histórias e estórias, e dar boas risadas.
O pessoal de uma das casas disse que, como estava fazendo calor, tinham ficado fora da casa até mais tarde. De repente começaram a ouvir os estouros e os silvos das balas, e correram para dentro alarmados.
Um dos presentes disse que tinha ido, logo cedo, até um pequeno supermercado situado a pequena distância, o qual costuma ficar aberto à noite, e lá ficou sabendo que tinha havido um assalto, que o segurança do supermercado enfrentou os bandidos a bala e matou um deles. Minutos depois chegou a polícia, que deu caça aos bandidos que se evadiam, prolongando o tiroteio. Alguém comentou que aquele supermercado costuma ser assaltado porque é o único que fica aberto até tarde da noite: os bandidos esperam pela hora de fechar, para que se acumule mais dinheiro na caixa, e só então assaltam. Parece que alguém teria avisado por telefone, um par de horas antes, que haveria o assalto, o que teria contribuido para a eficiente reação do segurança, e para a rápida vinda da polícia, muito embora a coisa tenha ficado um tanto inexplicada.
Nas noites seguintes não aconteceu mais nada do gênero, e o pessoal começou a reclamar que tudo tinha ficado monótono demais, de modo que começaram a deixar o local, retornando às suas residências em São Paulo ou outras cidades.
De nossa parte, falando francamente, não esperávamos nem de longe passar um carnaval tão emocionante.